Banhistas em Carcavelos confiantes em "ganhar aos chinocas" e deitados ao sol por "dever cívico".
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Ah, o primeiro dia do Verão, 30 graus em Lisboa poucos minutos antes do meio-dia. O táxi chega. "O quê? Para a praia de Carcavelos?", reage, espantado, o taxista, que contava ver o jogo na TV, mas que, de repente, vê-se obrigado a labutar até mais tarde. "Eu já ia render, mas caiu esta chamada", diz, num misto de desabafo e protesto, antes de ligar a um amigo para lhe dizer que afinal chegaria mais tarde. E assim vamos, pé direito no acelerador a 160 à hora pela A5 fora, as vuvuzelas já a mugir na TSF em alto volume. Para desanuviar a tensão, o condutor sai-se com a piada mais original dos últimos seis anos: "O seu nome é um engano, você devia ser o Cristiano Ronaldo".
A praia, afinal, não está deserta: abundam grupos enormes de criançada das escolas e surfistas para ondas de um metro. "Não posso ver o jogo da selecção, é óbvio que eu queria, mas tenho que cumprir as minhas obrigações", diz Jorge Grácio, o nadador salvador, sempre atento ao oceano, apesar de asseverar que a praia estava "a meio gás". Já no jogo contra a Costa do Marfim ele tivera que ali permanecer e até pedira a um amigo do bar lá em cima para gritar caso Portugal espetasse um golo aos africanos. "Eu tinha-lhe dito que dava um mergulho por cada golo", confessa-nos. Naquela terça-feira, Jorge Grácio derreteu ao sol.
"Com o Carlos Queiroz não vamos longe, coitado do homem, ninguém gosta dele", opina Sebastião Osório, moço sentado na esplanada do bar El Sombrero, olhos projectados para o televisor LCD, pratadas de caracóis fumegantes e imperiais vulcânicas a surgir do balcão. Mas Sebastião está confiante: "Acreditamos que conseguimos ganhar aos chinocas", aponta.
Duzentos metros ao lado, André Batoca, 16 anos, trabalha para o bronzeado deitado na areia, enquanto nos diz que "é um dever cívico apoiar Portugal". André não quer televisão e opta pela rádio: "Prefiro ouvir do que ver; dá muito mais ânimo e o comentador puxa pelos ouvintes". O jogo a decorrer, Portugal a facturar, o mar sereno em Carcavelos: está bandeira verde, dizem que é a cor da esperança, que por sua vez é o nome do cabo lá daquela cidade onde contamos até sete.