O Mundial de futebol que, a partir de hoje, sexta-feira, vai fazer arregalar os olhos de milhões de pessoas encerra uma responsabilidade acrescida. O continente africano idolatra este jogo global e é através da África do Sul que se junta finalmente ao panteão de nações que organizaram a prova.
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Por isso, mais do que um acontecimento planetário que cumprirá a missão de anestesiar, durante um mês, os mais apaixonados, a taça do mundo está a gerar uma crescente expectativa entre aqueles que a vêem como dínamo de uma nova África, uma África que, em muitos momentos, é usada como panfleto deste desporto de massas, porque há sítios em África onde não são necessárias balizas nem bolas para se praticar o futebol. Pode apenas juntar-se umas pedras para fazer de postes e umas meias enroladas para fazer de esférico. Ali joga-se pela mera paixão ao jogo.
O mundial que hoje começa (África do Sul e México cortarão a fita, às 15 horas) é muito mais do um megaevento cirurgicamente pensado pela FIFA e cirurgicamente aproveitado pelas marcas e pelos canais de televisão. Este mundial, como outros, tem essa grande virtude de unir as pessoas em torno de um mesmo objectivo: ganhar. Serão 32 equipas, divididas por oito grupos de quatro, espalhadas por dez estádios. Única missão: ganhar.
Ganhar fora dos estádios
E ganhar, para o país que acolhe a prova, significa muito mais do que vencer os adversários. Na África do Sul, a festa já vai a meio. Que é como quem diz: não dá para ir a lado nenhum sem escutar o som agonizante da vuzuzela, cujo resultado por vezes mais se assemelha a uma espécie rara de ave que não vemos mas sabemos que se move pelas redondezas.
As bandeiras que adornam os carros e as casas, os aeroportos convertidos em cimeiras improvisadas das Nações Unidas, as praças iluminadas pelo brilho etnográfico dos adeptos dos bafana-bafana, as escolas fechadas durante um mês inteirinho.
África do Sul está rendida ao efeito mágico do futebol. E luta desesperadamente para que o Mundial de 2010, pela captação de turistas que pode gerar no futuro, se transforme na próxima mina de um país que já não consegue viver à sombra do ouro.