Pega num cravo vermelho, mostra-se apreciador e conhecedor de murais políticos do pós 25 de Abril, diz que se sente à esquerda. O Paulo Portas deste domingo, circulando por uma pequena feira de artesanato, em Sátão (Viseu), quase dá pelo chamamento de camarada.
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Ritmo moderado, porque para isso também contribuiu a falta de gente na rua, marcou o arranque de um dia de campanha que terá continuidade na Figueira da Foz e em Coimbra. Distribuindo cumprimentos, pegando em crianças, fotografando e fazendo-se fotografar com um grupo de mulheres algo constrangidas pela situação, o presidente do CDS-PP foi falando de alguns aspectos programáticos, designadamente relacionados com a protecção aos mais desfavorecidos, saindo-se com esta que bem pode ser a tirada do dia: "Em termos sociais, sinto-me à esquerda do PSD".
Em termos de profunda crise, questiona, "que é que valem as categorias ideológicas? De que vale uma retórica abstracta?". "As palavras direita e esquerda deixaram de fazer sentido: o que faz sentido é a competência ou a incompetência". Ainda sobre o PSD, embora sem pôr em causa a coligação que todos adivinham (há outra possibilidade de coligação, com o PS, mas dessa não se fala), marcou algumas diferenças, pois é claro que é no eleitorado social-democrata que encontra terreno de crescimento, ou seja, a possibilidade de ir buscar votos para o CDS: "Eles, porventura, com excesso de liberalismo, nos com um compromisso social mais forte".
Comprou queijo, sentou-se numa velha carteira de escola primária, visitou uma exposição com fotografias de murais porlíticos do PREC. E mostrou-se grande conhecedor, por exemplo, da estética do maoismo, elogiando a qualidade dos trabalhos de propaganda do MRPP (hoje encabeçado pelo advogado do próprio Paulo Portas, Garcia Pereira), brincando até com inscrições que já viu noutras paragens: "No Alentejo, ainda se encontram murais em que se lê «Barreto e Portas, rua!», por causa do António Barreto e do meu tio, Carlos Portas, quando começaram a devolver terras aos proprietários depois da reforma agrária".