João Brites não se recorda do primeiro cromo que colou. Mas nunca vai esquecer o primeiro que o fez chorar. Foi em 1982. Além dele, também milhões de brasileiros choraram.
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"Foi o do Paolo Rossi. Ele tinha feito os três golos ao Brasil. Na altura, eu e dois primos estávamos a fazer a colecção e o cromo do Rossi saiu repetido à minha prima. Trocou-o com o meu primo e não comigo", recorda este webdesigner, hoje com 34 anos e que despertou para o mundo dos cromos pela mão da avó. "Subornava-me com cromos para eu vestir um casaco de lã vermelho quando estava frio. Não gostava, até porque sou do Sporting", sorri.
A história de João Camilo é parecida. Não se lembra de si próprio sem os cromos no bolso. Diz que isso nasceu com ele e a primeira colecção de Mundiais foi o da Argentina 1978. "Nessa, só me faltou um jogador sueco, o número 237. Nem me lembro do nome", lembra o funcionário do departamento comercial da Portucel.
Vício já chegou à Internet
São dois dos maiores coleccionadores nacionais. João Camilo tem mais de mil cadernetas, de vários campeonatos. Só de Mundiais tem trinta.
João Brites teve mais de 300, mas vendeu-as. Hoje, guarda poucas em papel. A mais antiga é da do campeonato português de 1976/77, oferecida pela avó. Mas digitalizou-as todas. É um dos fundadores do site "O Cromo dos Cromos", uma brincadeira que virou fenómeno na internet, com 500 mil visitas em cinco anos. Chegava a colocar um cromo por dia.
"Recuperamos o nosso passado através deles. É nostálgico", explica João Brites. Confessa que, quando era adolescente, passou por uma fase sem cromos. Hoje não. "Chego a ver homens a comprarem caixas para eles e a dizerem que são para os filhos", sorri. Os mais difíceis da vida? "Maradona em 1986 e Lineker em 1990".
João Camilo diz que adora ver os miúdos a trocar autocolantes, tal como fazia quando era mais pequeno. Ainda hoje guarda cromos repetidos. A paixão pelo coleccionismo levou-o a colaborar com a Panini, a empresa que detém os direitos da FIFA e do campeonato português. É ele que escreve os textos da caderneta do campeonato luso e aconselhou a empresa italiana na escolha dos 18 portugueses. E explica por que lá estão Bosingwa, João Moutinho e nenhum jogador do Benfica. "As listas foram feitas no final do ano. "O Bosingwa ainda não estava fora e ninguém pensava que o Moutinho ia ficar de fora. Quanto ao Quim, só podemos pôr um guarda-redes e era o Eduardo quem estava a jogar de momento", esclareceu João Camilo.