Fala com a autoridade de quem foi galardoado, em 2004, com o prémio de Excelência Científica da Fundação para a Ciência e Tecnologia e de quem recebeu a distinção máxima conferida a um cientista em Portugal, a de "Académico Correspondente da Academia das Ciências de Lisboa para a classe das Ciências".
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João Rocha, 47 anos, é professor catedrático no departamento de Química da Universidade de Aveiro e director do Centro de Investigação em Materiais Cerâmicos e Compósitos (CICEDO), um laboratório associado criado em 2002 e que, neste momento, integra 350 pessoas, entre professores, investigadores e alunos de doutoramento, muitos dos quais estrangeiros.
João Rocha admite que, nos últimos três/quatro anos, o orçamento para a Ciência em Portugal aumentou, o que permitiu que houvesse uma "grande expansão do sistema científico nacional". "Foi excepcional porque permitiu aumentar muito o número de investigadores e desenvolver consideravelmente a investigação", diz, apontando os programas de bolsas de investigação e de intercâmbio com universidades estrangeiras como uma forma "muito eficiente" de internacionalizar a ciência portuguesa. Pelas suas contas, nestes quatro anos deverão ter entrado no sistema mil novos investigadores.
Contudo, nem tudo são rosas. João Rocha está preocupado com a "sustentabilidade do sistema" e lembra que o caminho feito até agora é ainda curto e "reversível". "Estamos no ponto de partida para ter um sistema científico forte, mas é preciso dar-lhe condições para funcionar", diz, apontando o "problema dos investigadores brilhantes, com contratos temporários" e dos jovens que estão a fazer doutoramentos e pós-doutoramentos "cujo futuro é muito incerto".
O investigador defende que "é preciso reter no País um número significativo de pessoas altamente qualificadas" que assegurem que a investigação continue a ser feita "ao mais alto nível" e desafia o próximo Governo a criar "um sistema que permita enquadrar devidamente os melhores jovens investigadores e a estabilizar uma rede de laboratórios financiados pelo Estado" que garantam a prossecução do desenvolvimento científico.
"É muito importante que os Governos (de direita ou de esquerda) percebam que as sociedades modernas só têm êxito se tiverem um sector científico forte", diz, admitindo que, nos próximos anos, ainda terá de ser o Estado a suportar a maior fatia destes custos. "Ainda não é possível à indústria e ao sector privado financiar o sistema científico, nem sequer a um nível próximo do razoável. Muito menos no momento actual de crise". No caso do CICECO, só cerca de 10% do seu orçamento vem do financiamento directo da indústria (comparado, por exemplo, com cerca de 15% de projectos científicos de nível europeu).
Outra das espinhas que aponta é o modelo e dimensão da FCT. "Com todas as iniciativas criadas para fomentar a investigação, não aumentou a sua capacidade logística. Antes pelo contrário: com a sobrecarga de trabalho, houve funcionários muito competentes que foram embora", diz, considerando que "é absolutamente fundamental repensar a instituição, dotando-a de mais meios materiais e humanos para que possa acompanhar a dinâmica criada nos últimos anos no sistema científico nacional".