E ao quinto e último dia do Vodafone Paredes de Coura, o recinto encheu-se como ainda não havia acontecido nesta edição. Um clima de festa que se acentuou com as atuações dos Belle & Sebastian e Justice.
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Se foi preciso esperar pelo último dia para que o festival minhoto registasse uma assistência à moda antiga, também a euforia popular só se manifestou em plena força na despedida. Em circunstâncias normais, a aparição dos Knife e o set dos Simian Mobile Disco, artistas cujos espetáculos encerraram as duas noites anteriores, teriam atingido esse desiderato mas, por razões distintas, só na reta final tal sucedeu.
Para os mais de 20 mil espectadores presentes em Coura, a espera custou mas terá valido a pena. Pelo menos, a fazer fé no entusiasmo com que se entregaram a ambas as propostas.
Dos dois derradeiros artistas do cartaz, o destaque vai por inteiro para os Belle & Sebastian. Não só porque atuavam perante um público para quem a sua música não era um território familiar, mas também pelo facto de esse triunfo ter sido alicerçado por inteiro no virtuosismo dos seus membros, não dependendo em exclusivo da parafernália técnica dos outros cabeças de cartaz.
Neste regresso a Portugal após uma década de ausência, o septeto captou com rara acuidade o sentido festivo que rodeia um grande evento musical ao ar livre, trocando a propensão introspetiva patente em muitos dos seus discos por uma energia que se revelou decisiva para a adesão franca dos espectadores às suas músicas.
Com o vocalista Stuart Murdoch em grande forma, os escoceses souberam trazer para o seu lado uma assistência inicialmente curiosa mas distante. A forma franca como partilharam com o público diferentes etapas da sua discografia, incluindo esse monumento pop-indie-folk que tem por título "The boy with the arab strap", foi o primeiro passo para a cumplicidade que se estabeleceu entre ambos.
Nome mais aguardado da noite - quiçá do festival, ou não tivesse sido neste dia que o recorde de afluência deste ano foi batido -, os Justice seriam um fenómeno de difícil explicação se a subcultura techno não gozasse de tantos seguidores.
Ceticismos à parte de quem se habitou a ver o encerramento do festival entregue a nomes insuspeitos como Nick Cave & The Bad Seeds, Bauhaus, Sonic Youth ou Thievery Corporation, Gaspar Augé e Xavier de Rosnay fizeram em Coura o que qualquer artista real não desdenharia. Uma comunhão perfeita com o público que se entregou do princípio ao fim com um ardor invulgar ao longo set da dupla, Missão cumprida.
Calexico triunfam
Uns enormes Calexico reconciliaram o Vodafone Paredes de Coura com os concertos inesquecíveis, algo arredados da edição deste ano do palco principal do festival.
Aliás, custa a perceber como só ao cabo de 23 anos é que os Calexico fizeram a estreia nos festivais portugueses. Por falta de interesse popular não foi certamente, dada a franca adesão das massas registada este sábado ao princípio da noite no sempre marcante anfiteatro minhoto.
Por défice de empenho do grupo, muito menos. Verdadeiro testemunho de devoção do vocalista Joey Burns a Portugal, apreciador de longa data do vinho do Douro, o espetáculo trouxe algo de que a edição deste ano - no palco principal, acima de tudo - tanto estava carenciada: entrega plena. E um pouco de memória lúcida, já agora.
A fusão irresistível entre pós-rock, tex-mex e americana - em suma, o feliz cruzamento entre as raízes sonoras estado-unidenses e mexicanas - só teve um inconveniente: os 60 minutos do concertos souberam a pouco.
Barcelos fica para esta edição como reduto de algumas das mais excitantes propostas que passaram pelo festival. Se este sábado os Glockenwise trouxeram doses fartas de energia ao recinto, hoje foi a vez dos Black Bombaim reincidirem na hercúlea missão.
Em moldes diferentes. Se nos primeiros tudo pede movimento e contorção, nos Black Bombaim - primeira banda a atuar este sábado no palco principal, ainda de dia - é o menear lento que se impõe, dada a forte carga hipnótica das suas batidas.
Os Palma Violets são uma daquelas invenções em que a imprensa inglesa é pródiga, quanto mais não seja para nos provar que ainda existe. Apelidados nos últimos tempos como a oitava maravilha do garage punk, são, afinal, um arremedo de banda que impressiona sobretudo pelas suas limitações - a começar pelo vocalista, à beira de quem Sid Vicious era um tenor de classe mundial.
Em Paredes de Coura mostraram quão postiços são (exceto nas abundantes cabeleiras, claro). Não faltaram as habituais juras de amor da praxe a Portugal e os gritinhos aparentemente raivosos mas calculados até à medula. Dispensáveis.