Dificilmente poderia ser mais contrastante o encerramento do penúltimo dia do Vodafone Paredes de Coura. Colocar lado a lado Echo and the Bunnymen e Simian Mobile Disco como derradeiras propostas da noite poderia até ser visto como sinal de alguma desejável versatilidade, se tal não significasse uma certa esquizofrenia identitária incompatível com um festival desde a primeira hora mais associado à cena indie.
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Se o rock teve rédea solta até ao cair da noite, com Glockenwise e Horrors em bom nível e Peace esquecíveis, o serão e a madrugada trouxeram a tal excessiva amplitude sonora. Não é uma simples questão de purismo, mas faz alguma espécie ver como os cabeças de cartaz das três noites do palco principal pertencem ao território da dança (afinal, como reza a música, "God is a DJ").
Sem comprometerem, os Echo and The Bunnymen cumpriram a quota parte de nostalgia que deles se esperava. A boa notícia é que a voz de Ian McCulloch mantém o tom grave e a profundidade que tanto furor causaram em muitos adolescentes dos anos 80 repletos de sonhos 'arty'. O reverso, porém, não é agradável: a passagem dos anos não foi exatamente meiga para a sonoridade dos britânicos, datada e obviamente deslocada do festival. Não espanta por isso que a maior parte da plateia, desconhecedora do legado da banda, disperse durante o espetáculo ou aproveite para conversar a a plenos pulmões, indiferente aos que pretendiam ouvir os autores de "Ocean rain".
Pior ainda: o principal trunfo, o glorioso "Killing moon", é simplesmente desbaratado numa versão demasiado pobre. Salvou-se, pelo menos, uma interpretação mais vigorosa de "Lips like sugar".
Seguiram-se os Simian Mobile Disco, projeto dos londrinos James Ford e Jas Shaw que começou por impressionar os espectadores com as suas batidas tonitruantes e um jogo de luzes de respeito. Escudados num poderoso artefacto sonoro, conseguiram pôr parte da plateia a dançar durante alguns minutos. Mas a repetição exaustiva de fórmulas que caracterizam o seu som fez com que o impacto se diluísse até ao encerramento. Discreto.