Os Horrors emergiram da sombra poucos minutos depois das 21.30 horas para protagonizarem o terceiro concerto do penúltimo dia do Vodafone Paredes de Coura. Em bom rigor, não chegam jamais a abandonar as trevas durante a sua atuação, mesmo quando foi acionado o estonteante jogo de luzes.
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A "culpa" deve-se à voz soturna de Faris Badwan, com resquícios "a la" Ian Curtis, como aos "riffs" intensos dos seus comparsas sonoros. E de súbito o bucolismo minhoto transformou-se numa fumarenta cave britânica, no que constituiu um excelente aperitivo para o concerto dos Echo & The Bunnymen, logo a seguir.
Antes, os Peace forneceram também o seu contributo, ainda que modesto, para reconciliar os presentes com o rock, antídoto perfeito para combater a desilusão chamada Knife, da noite anterior.
Os Glockenwise são um bando de miúdos irrequietos com o rock nas veias e fizeram questão de mostrá-lo a cada instante. Estreantes no festival - mas apenas no palco, porque como espectadores são presença assídua -, conseguiram reunir alguns milhares para ouvi-los num final de tarde menos quente do que nos dias anteriores.
O garage rock dos barcelenses é tão simples quanto eficaz e pede apenas entrega total a quem o escuta. Herdeiros do punk, conseguiram criar um arremedo de moshe, feito raro por estes dias em Paredes de Coura.
Meia hora antes, no palco secundário, David Santos (nome de guerra: Noiserv) provou que é possível obter ampla repercussão junto do público mesmo fora do registo rock"n"roll. As suas canções frágeis e melancólicas trazem a Coura um perfume outonal que aumentou as expectativas gerais em relação ao seu próximo disco, "Almost visible orchestra", com data de saída iminente.
Punk dinamarquês traz "moshe" a sério
O cair da noite no palco Vodafone FM veio com muita tarola, distorção e rapidez. O mérito foi dos Iceage e do seu garage punk que, pela primeira vez, conseguiram por Paredes de Coura a "moshar" a sério. E até uma adolescente com um animal de peluche nos braços andou a fazer crowdsurfing.
Verdade seja dita, os Iceage não são foras de série, mas muitos festivaleiros estavam sedentos de rock e os dinamarqueses deram-lhes isso mesmo. Mais próximos de Dead Kennedys ou Black Flag do que Sex Pistols, tocaram um punk agressivo e potente que agradou às poucas centenas de pessoas que apostaram no palco secundário em vez do principal.