O folk dos Mumford and Sons foi responsável por um dos primeiros momentos altos do segundo dia de Alive. Os Morcheeba vieram substituir Florence + The Machine, mas estão longe de conseguir o efeito dos seus compatriotas.
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A noite mais "made in England" da 6.ª edição do Optimus Alive arrancou com os portugueses We Trust, mas foram as estreias de Noah and the Whale e Mumford and Sons em palcos lusos que fizeram verdadeiro sucesso.
Compromisso folk rock, o som dos Noah and the Whale mete guitarra, baixo e bateria - tudo o que se exige a qualquer banda rock -, mais um violino que se assume como verdadeiro protagonista em algumas canções. Na primeira passagem do grupo por Portugal, ouviram-se "Give a little love", "Blue Skies" ou "Five years time", o primeiro single do disco de debute da banda, "Peaceful, the World Lays Me Down" (2008).
No recinto, os 16 mil estrangeiros que vieram ao festival fazem-se notar. O ambiente no Passeio Marítimo de Algés é muito mais cosmopolita do que em anos anteriores e em qualquer canto do recinto se ouve falar inglês ou espanhol. Só britânicos são sete mil, o que justifica em grande parte a calorosa receção que as bandas inglesas têm tido por estas bandas.
"Estamos muito felizes por estar em Portugal. É a nossa primeira vez", disse Marcus Mumford, vocalista dos Mumford and Sons. A banda protagonizou o grande momento da tarde, com um festim de instrumentos em palco que pôs a plateia aos pulos logo nas primeiras canções. Na linha rock folk dos Noah and the Whale - mas bem mais folk - os Mumford and Sons oferecem um ritmo verdadeiramente contagiante, que nasce do cruzamento de guitarras e bateria com o banjo, acordeão ou mandolim.
"Little Lion Man" fez levantar muitos braços na plateia e o público não falhou uma palavra do refrão. Antes de "Winter winds", agradecimentos em português e muitas meninas às cavalitas para conseguirem ter vista privilegiada sobre o palco. O momento foi de verdadeira celebração folk, com a banda a esforçar-se por comunicar com o público em português.
Ainda os Mumford and Sons não tinham entrado no palco principal, surgia na tenda Heineken mais uma bela descoberta do festival: The Antlers. Atuaram ao início da noite e o concerto revelou-se, para muitos, uma estupenda surpresa: a formação de Brooklyn labora uma espécie de pós-rock flutuante e contemplativo que não raras vezes lembrou uns Mogwai mais sensíveis - e com voz - ou uns The Zephyrs.
É uma banda que merece ser descoberta, pratica uma música sonhadora e amiúde cintilante. É tripulada pelo vocalista Peter Silberman, um moço que da sua boca solta frases em serpentina - e tudo ali parece fazer sentido.
A enchente era grande na zona de refeições quando os Morcheeba subiram ao palco. A tarefa de ser banda substituta é ingrata, mas o grupo de Skye Edwards, Paul Godfrey e Ross Godfrey fez o melhor que pôde, mimando mesmo o público com alguns versos de "You"ve got the love", dos Florence + The Machine.
"The sea" e "Friction" foram as primeiras canções entoadas pela doce voz de Skye Edwards, mas "Otherwise" é que chamou a atenção do público que andava disperso. A banda é presença assídua em Portugal, e confessou que apenas soube que ia regressar a palcos lusos ontem à tarde.
"Rome Wasn't Built in a Day" foi sabiamente deixada para o encore, fechando da melhor forma possível uma atuação que, para muitos, não passou de um ritual de passagem para a banda que todos querem ver esta noite: os The Cure.
Ainda o concerto de Morcheeba não ia a meio, quando um dos nomes mais aguardados no palco Heineken se apresentava diante do público. Tricky apareceu de tronco nu e esqueleto a deslizar na pele, braços num soco súbito como se estivesse num ringue. Passou a tarde a fumar charros com os Blasted Mechanism. Espantou-se com as farturas. E deu um bom concerto.
Volta e meia passava-se: interrompeu "Black Steel" e "Overcome", provavelmente irritado com o facto de estar ali outra a cantar e não a Martina Topley-Bird. Mas outras vezes parecia radiante com o que ali se passava - e unia as mãos, como uma reza, agradecia o carinho do povo. Ou batia o microfone no coração.
Em "Ace of Spades", dos Motorhead, convidou público para o palco. Foram quase quarenta e tal, os seguranças à toa. E depois despediu-se com "Vent", estendendo a música até aos oito ou nove minutos.