Os candidatos presidenciais Francisco Lopes e Manuel Alegre estiveram em sintonia nas críticas à forma como o actual presidente da República exerce o mandato, e no objectivo de levar Cavaco Silva a disputar uma segunda volta.
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No debate transmitido pela SIC, Manuel Alegre, apoiado pelo PS e pelo BE, considerou que o "silêncio de Cavaco Silva" sobre a "especulação dos mercados" em relação a Portugal é "insustentável".
"Eu, se fosse Presidente da República, já tinha pedido uma audiência a Merkel (chanceler alemã) e a Sarkozy (presidente francês)", afirmou Manuel Alegre.
Francisco Lopes, o candidato apoiado pelo PCP, também criticou a actuação de Cavaco Silva, acusando-o de ter sido a "voz dos mercados" contra os interesses nacionais e ambos defenderam que o país precisa de "voltar a produzir".
Sem hostilizar o candidato apoiado pelo PS e pelo BE, Francisco Lopes procurou "colar" Manuel Alegre a decisões do Governo PS que considerou negativas, como a aprovação do Orçamento do Estado.
"A candidatura de Manuel Alegre é um direito e está em melhores condições do que a minha para mobilizar os que apoiam a política do Governo", afirmou Francisco Lopes, que disse representar "os que são atingidos" pelas medidas do Governo.
Quanto a um eventual apoio a Alegre numa segunda volta, Francisco Lopes respondeu que "o povo português é que decidirá na primeira volta quem passará à segunda volta", na lógica, já defendida pelo PCP, de que todos os votos à esquerda contribuem para derrotar a candidatura à direita.
Por seu lado, Manuel Alegre afirmou que "nunca se perdeu uma eleição presidencial por causa do Partido Comunista", que "contribui para o debate, para a clarificação de posições e até para combater a abstenção".
"Agora é mobilizar as forças necessárias para que haja uma segunda volta", disse Alegre.
Cavaco Silva "é um factor de instabilidade"
No início do debate, os dois candidatos assumiram-se como defensores dos "valores de abril", com Manuel Alegre a afirmar a autoria do preâmbulo da Constituição da República.
Francisco Lopes insistiu que "há um comprometimento" de Alegre com a actual situação do país e com o rumo das últimas décadas, nomeadamente no apoio à união económica e monetária.
Francisco Lopes não respondeu no entanto em que situação ficaria Portugal se saísse da União Europeia, um cenário rejeitado pelo candidato apoiado pelo PS e pelo BE.
Alegre considerou que a moeda única foi "um passo em frente" e afirmou acreditar no projeto social europeu, mas não na actual "lógica monetarista".
O socialista insistiu nas críticas a Cavaco Silva, considerando que "é um factor de instabilidade" pela forma como entende os poderes de Presidente da República.
Quando o actual Presidente promulga um diploma fazendo-o acompanhar de "reservas e dúvidas" enfraquece e desvaloriza a lei em causa, defendeu.