Visita a unidade da Lactogal sob a sombra dos factos políticos do momento.
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"Ainda não vimos leite", dizia a líder do PSD, bata branca sobre o fato azul marinho, mas renunciando à touca que lhe afectaria o penteado, entre linhas de embalagem, de produção de iogurtes, manteiga, queijos e quejandos. Era verdade, pois Leite, à vista, só com maiúscula, ou seja, ela mesma. A visita à fábrica de Oliveira de Azeméis da Lactogal servia para chamar a atenção para um sector que envolve cerca de 60 mil pessoas e tem, alegam os sociais-democratas, sido ignorado pelo Governo. Uma vez mais, essas intenções ficaram à sombra do facto político do dia ("facto político" é um conceito típico destas alturas), a manchete do "Diário de Notícias" sobre o caso das escutas, a propósito da qual soltou apenas um "desconheço" já ouvido noutras ocasiões.
E com isso começou mais um dia de campanha "low profile", numa linha da qual a candidata não quer desviar-se um milímetro, pois diz estar a assistir a uma mobilização que há muito não se via em torno do PSD. As sondagens [PS: 38%; PSD: 32%; valores de anteontem, segundo a Católica] não a assustam: todos, no partido, lembram que o panorama, antes das europeias, era semelhante; tal como todos, no partido, alinham agora na ideia de que o importante é que "o PSD ganhe, nem que seja por um voto" (palavras de Hermínio Loureiro, ali como candidato à Câmara de Oliveira de Azeméis), corrigindo o deslize de João de Deus Pinheiro, que, no ambiente informal da visita a uma fábrica de acabamentos têxteis, havia pedido a maioria absoluta.
Mas e o leite, senhores? Com um atraso bem mais ligeiro do que vem sendo habitual (12 minutos), a comitiva da presidente social-democrata chegou à fábrica, onde a esperavam notáveis do partido (Couto dos Santos, n.º 1 por Aveiro, à cabeça) e da indústria. "A mobilidade, aqui, é difícil, porque é uma entrada de fábrica. Vocês deixam a senhora à porta e entram lá para dentro", dizia o mesmo Loureiro, ao telefone com os acompanhantes da líder, mesmo antes de ela chegar, para conhecer o admirável mundo dos lacticínios: sabiam que uma vaca produz, em média, 6180 quilos de leite por ano? Ficam a saber.
Claro que, além do esforço produtivo das generosas bovinas, muito mais foi dito àquela que é apresentada, aqui e ali, como a próxima primeira-ministra de Portugal (coisa que traz à memória o candidato um dia derrotado por George W. Bush, que se apresenta assim: "Chamo-me Al Gore e costumava ser o futuro presidente dos Estados Unidos"). Foi dito, não nos desviemos, que as quotas leiteiras na União Europeia, a partir de 2015, constituirão grave problema. "Há quem diga que, a sul de Paris, não há condições para produzir leite", dizia um dos anfitriões.
Ora, a Lactogal, sociedade anónima detida, em partes iguais, pela Agros, pela Lacticoop e pela Proleite, é um exemplo da forma como as cooperativas, associando-se, conseguiram evitar o esmagamento pelos gigantes estrangeiros que se instalavam em Portugal e cresceram além-fronteiras: têm quatro fábricas em Espanha, além das cinco unidades portuguesas.
Dando emprego directo a 2392 pessoas (300 em Espanha), a Lactogal movimenta milhões e milhões de litros de leite, o tal que Manuela não viu, escondido que andava em tubagens e máquinas.