Criar a simbiose perfeita entre a música, o espaço e o público é o objetivo do artista plástico João Paulo Feliciano, diretor artístico do Primavera Sound Porto. Tudo o que é ruído, sonoro ou visual, não entra.
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"O Parque da Cidade é um local de sonho para fazer um festival destes", afirma João Paulo Feliciano, responsável pela direção artística do Primavera Sound Porto, que se realiza nos dias 7, 8, 9 e 10 de junho. Nos últimos seis meses, o artista plástico - que também é músico - tem trabalhado na cenografia do recinto do festival, uma das grandes apostas desta primeira edição do Primavera Sound em Portugal.
Erguer um festival de música, que deverá receber cerca de 30 mil pessoas, num local nobre como é o Parque da Cidade é, por si só, um fator distintivo, que Feliciano quis realçar: "Tentámos fazer o contrário do que acontece nos outros festivais todos".
E fazer o contrário do que todos os outros fazem é apostar na simplicidade máxima e ruído visual mínimo. No Primavera Sound Porto não há diversões, não há brindes inúteis que produzam lixo nem um pulular de cores a desviar a atenção do que realmente interessa: a música. As formas e as cores do recinto foram escolhidas com o intuito de "reforçar a beleza e geografia do parque" e de estar em "sintonia com a música do festival".
Palcos camuflados
"Nos três palcos - Optimus, Primavera e All Tomorrow's Parties - a linguagem vai ao encontro estético da música. Optei por soluções mais desalinhadas, mais 'indie rock', na verdade", revela Feliciano, que se inspirou nas bandas que ali vão atuar .
Os dois palcos principais - Optimus e Primavera - são redondos e vão estar cobertos com uma rede camuflada, que se estenderá ao longo dos 100 metros que os separam. As telas que costumam ladear os palcos, e que por norma ostentam os nomes dos patrocinadores, foram abandonadas.
"A publicidade aos patrocinadores foi colocada noutros suportes que não interferem com o palco", explica, referindo-se, por exemplo, à torre de luz da Optimus - patrocinador principal -, que se situa atrás do palco.
O "All Tomorrow's Parties", palco a cargo da promotora inglesa homónima, segue a mesma linguagem irregular, com a rede camuflada a dar lugar a tábuas de madeira rústica desalinhadas, que reforçam o ambiente campestre daquela zona do recinto. O festival está lá, mas quer interferir o menos possível com a paisagem natural.
Prova disso é, também, a colocação do Palco Club - que funciona até mais tarde - na área do "queimódromo", já fora da zona verde do parque, ou a criação de uma "Casa de Campo" para os convidados.
Todas as empresas presentes, nomeadamente as de venda de comida e bebida, foram sensibilizadas para seguir os cinco princípios definidos pelo diretor artístico: transparência, leveza, simplicidade, elegância e economia de meios.