Nova linha para prevenção de suicídio arranca hoje mas ainda sem coordenação clínica
A nova linha telefónica para a prevenção do suicídio entrou em funcionamento esta quarta-feira, mas ainda sem coordenação clínica, admitiu a secretária de Estado da Saúde, segundo a qual está a ser desenhada uma campanha de divulgação do novo serviço.
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A linha telefónica, que funciona através do número 1411, foi hoje apresentada publicamente, no mesmo dia em que entrou em funcionamento, apesar de ainda não ter coordenação clínica, sendo que, sobre essa questão, a secretária de Estado da Saúde apenas disse que não podia ainda anunciar nenhum nome.
Ana Povo admitiu, por outro lado, algumas dificuldades no recrutamento de psicólogos para o atendimento, revelando que houve dois cursos de formação, garantidos pela Associação Portuguesa de Suicidologia, cada um com 50 vagas, e que em ambos ficaram vagas por preencher.
"Houve inclusive dois profissionais que fizeram o curso e que não querem participar na linha", disse a secretária de Estado, salientando "o peso que é estar no atendimento desta linha". "Nós estamos a ver mais profissionais, também é preciso ter a noção do número de profissionais que nós vamos precisar porque nós ainda não temos a noção do número de telefonemas que vamos ter", apontou Ana Povo.
Linha vai ser melhorada para "chegar a todos"
A governante acrescentou que, neste momento, a linha funciona só com psicólogos, mas que a intenção é de avaliar a abertura a mais grupos profissionais, "sempre com formação especifica nesta área". Relativamente à divulgação da linha telefónica, a secretária de Estado afirmou que o objetivo é "tentar chegar a todos", estando previsto que esse trabalho venha a ser feito com associações da sociedade civil.
"Nós estamos já a desenhar a campanha, mas queremos ser cautelosos na sua divulgação", disse a governante, afirmando "não [querer] criar ruído, mas chegar a quem precisa de forma serena".
Questionada sobre se vai ou não existir uma estratégia nacional de prevenção do suicídio, Ana Povo lembrou que "faz parte dos planos do Governo e está no programa do Governo especificamente uma estratégia relativamente ao suicídio". "Vamos trabalhar numa estratégia e a seu tempo divulgaremos", afirmou.
Em representação da Coordenação Nacional das Políticas de Saúde Mental, Ana Matos Pires sublinhou que é "sempre muito arriscado" definir um perfil sobre quem se suicida, destacando que "o suicídio é um comportamento que pode suceder com qualquer pessoa".
Taxa de suicídio maior nos homens
"Os dados epidemiológicos o que nos mostram em Portugal é que a taxa de suicídio é maior nos homens com mais de 65 anos, vivem do [rio] Mondego para baixo, no interior e isolados", adiantou a especialista.
De acordo com Ana Matos Pires, este é um padrão que se tem mantido e adiantou que há um estudo de avaliação de 2013 a 2021 que "mostra que as taxas têm-se mantido mais ou menos regulares, com uma ligeiríssima descida".
A secretária de Estado salientou que todo o trabalho desenvolvido para a concretização da linha telefónica teve em conta informação e propostas da Organização Mundial de Saúde (OMS) na área da suicidiologia e que, por isso, é objetivo desenvolver outros métodos de acesso que não só o telefone.
Referindo-se especificamente aos mais jovens, defendeu que é importante que haja uma "linguagem adaptada a cada grupo etário", mas frisou que "Portugal tem das mais baixas taxas de suicídio infantil/juvenil do mundo".
A linha de prevenção do suicídio está integrada na linha SNS 24, em articulação com o respetivo serviço de aconselhamento psicológico, mas funciona de forma totalmente autónoma, com identidade e número próprios, cabendo a sua coordenação aos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS).
Toda a informação pessoal e clínica fornecida pelos utentes será tratada com respeito pelo dever de confidencialidade, em conformidade com a legislação de proteção dos dados pessoais, indica a regulamentação.