<p>A mãe costumava dizer-lhe: "Não se pode é parar". Ontem, o social-democrata Paulo Rangel foi obrigado a parar na corrida da campanha para as eleições europeias para responder a quatro entrevistas "por atacado", como o próprio confessou. No final da conversa com o JN admitiu que "preferia estar na estrada".</p>
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É ou não disfuncional que nestas eleições os partidos estejam mais concentrados nas suas agendas nacionais?
Não estou muito de acordo com essa análise. O que nós trouxemos para a campanha foi precisamente pegar na vertente europeia de temas nacionais. A questão dos fundos comunitários é um tema que é nacional, o combate à crise - há uma estratégia europeia de combate à crise que o Governo português não está a seguir rigorosamente - é um tema nacional, a agricultura é uma questão europeia e nacional. O debate de temas que dizem respeito às pessoas, na vertente europeia, não é de todo disfuncional.
Mas os candidatos não estão mais concentrados no desgaste do Governo?
Mas é isso que está em causa. Tem de ser avaliado o trabalho do PS nas políticas com dimensão europeia. Quando falamos dos fundos comunitários, temos que concluir que o Governo foi totalmente incompetente, centralista e burocrático. Chegou ao fim de dois anos e meio em que, quando devia estar numa execução à volta de 20 a 25% do QREN, tem uma taxa de 4%. É medíocre.
O voto é um exame ao Governo?
Sim, tem de ser avaliado o trabalho político dos deputados que representam o Governo nas questões que têm a ver com a União Europeia.
O distanciamento dos europeus em relação às instituições europeias é um facto. Acredita que algo mude?
Sinceramente acho que este distanciamento é mais estrutural. Não tenho a ingenuidade de pensar que estas eleições europeias consigam ultrapassar o distanciamento, esse menor interesse dos europeus pelas questões europeias.
O que fazer? Como levar os portugueses a envolverem-se mais?
O tipo de campanha que o PSD está a desenvolver é justamente procurar mostrar qual é a relevância europeia de questões nacionais. Levar as pessoas a perceberem que há um impacto nacional das decisões europeias, que questões que debatemos aqui têm uma vertente europeia.
O que pode fazer um eurodeputado?
Tem o seu voto e o seu trabalho. E tem a sua voz no território nacional. Por isso é que o PSD propôs uma rede de autarquias-Europa para levar os eurodeputados a responder pela sua actividade no PE. Temos a noção que há aí um défice de prestação de contas. Por isso auto-vinculámo-nos à ideia de que cada um representará uma parcela do território nacional.
A soma dos votos do BE e do PCP pode ditar o rumo nas legislativas. O PSD também compete para conter a esquerda?
Não. O nosso grande adversário é o PS. Mas não temos dúvidas de que há pessoas que neste momento - porque estão cientes das más políticas do PS e do seu mau desempenho - terão de optar entre uma solução mais à esquerda e o PSD. A nossa mensagem é também para esse eleitorado.
Como vê a crescente intenção de voto na esquerda?
Seria negativo para o país. Não tem nenhuma tradição nem nenhum reflexo na própria Europa. Na Europa não existe este fenómeno de partidos à esquerda dos socialistas terem uma expressão tão visível. Seria negativo para a democracia portuguesa.
Numa entrevista recente exprimiu convicções morais e religiosas (divórcio, casamento de homossexuais, distribuição de preservativos). Defenderá políticas nesse sentido?
Na questão europeia isso é um bocadinho irrelevante.
Ou seja, não são questões que se ponham no Parlamento Europeu?
Não. Nem acho que o devam ser. Tenho defendido que as questões de sociedade devem ser decididas por cada Estado-membro. Essa é a tradição das federações, em que o estatuto das mais diversas das matérias varia de estado para estado. Na União Europeia, que nem sequer uma federação é, por maioria de razão, questões de sociedade não devem ser postas como sendo europeias. Devem ficar na idiossincrasia cultural, moral, mundividencial de cada país.
O PE impediu a investidura de Rocco Buttiglione pelas suas convicções morais.
Penso que aí não tinha tanto a ver com o facto de ter essas convicções, mas com a forma pouco tolerante e pouco plural como as afirmou.
Tenciona cumprir o mandato?
Não tenho mais nenhum plano senão esse.
José Miguel Júdice disse ao JN que o considera o futuro do PSD. O que responde?
O que eu daí retiro, e que aceito - o resto não aceito -, é a ideia de que há novas gerações no PSD e de que eu estou nessas novas gerações. Mas é um movimento muito mais vasto do que a minha pessoa.