Restaurante Viveiros da Mauritânia abriu a cozinha para o JN presenciar as emoções de quem não pôde ver a partida com a Coreia do Norte pelo televisor.
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Ojogo da selecção começou há minutos, mas, na cozinha do restaurante Viveiros da Mauritânia, em Leça da Palmeira, Matosinhos, ninguém sabe que a bola já está a rolar na África do Sul, onde há vuvuzelas estridentes. Os oito cozinheiros andam numa lufa-lufa, mais preocupados com o tempero dos molhos do que com as incidências do encontro. "Estou a sofrer muito", diz José Rodrigues, o cozinheiro chefe, enquanto mergulha os olhos numa panela fumegante.
Na cozinha, ninguém ouve o som de um televisor gigante colocado na sala ao lado, onde os clientes apreciam mariscos frescos e francesinhas picantes. O exaustor corta qualquer descrição do jogo e só a manifestação efusiva dos clientes, quando a bola vagueia perto da baliza, leva-os a ter uma pequena percepção dos lances mais perigosos. "Chuta Meireles", diz João Antunes, imitando um anúncio publicitário da moda, a desafiar o calor tórrido do fogão. E diz porque o médio é um dos frequentadores assíduos da casa e já ofereceu uma camisola da selecção aos funcionários. Mas o cozinheiro não está a ver o jogo.
É a hora de maior aperto. As duas salas estão repletas, são 200 almas a sofrer pela equipa das quinas e os empregados de mesa vestem camisolas com as cores nacionais. "Ainda não vi nenhum jogo do Mundial, porque nesta altura temos mais clientes", diz Fernando Pinho, um dos responsáveis da casa, mais preocupado com as travessas do que com a bola. Muito de vez em quando, o chefe abre a porta da cozinha e fica de olhos perdidos no televisor. "Não faço a mínima ideia como está o jogo", conta André Azevedo, lenço negro na cabeça e mãos rápidas a descascar batatas.
É precisamente nessa altura que Raul Meireles marca o primeiro golo de Portugal à Coreia do Norte. Por muito que o barulho do exaustor funcione como uma barreira acústica, é incapaz de suster a explosão de alegria que se ouve na sala. Os clientes levantam-se e gritam golo como se fossem relatadores de rádio. E os cozinheiros deixam os tachos e as frigideiras à mercê do fogão para saciar a curiosidade: "Como foi o golo? Não vi muito bem", lamenta-se o chefe da cozinha.
Começam a ser servidos príncipes. "Por cada golo marcado, oferecemos cerveja e tapas", revela Fernando Pinho, enquanto Bruno, empregado de mesa, pressiona uma ruidosa buzina sempre que Portugal marca. No final, contabilizam-se sete golos, dois barris de cerveja, robalo e francesinhas à fartura. E a promessa do chefe: "Se formos campeões do Mundo, oferecemos um jantar à selecção". Contas feitas, é como diz João Antunes: "Com tantos golos, estamos de barriga cheia".