Voto útil, voto inútil, voto desperdiçado, voto de protesto. Não, não é um jogo de palavras. É a derradeira investida do PS para vencer as eleições. De tal forma que António Vitorino pediu, à noite, em Setúbal, o voto dos social-democratas desiludidos com este PSD.
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Ontem foi, talvez, o dia em que mais se ouviu a palavra voto. Compreensível, dada a proximidade das eleições e o ombro-a-ombro entre PS e PSD. Ora, nessa disputa havia que responder ao piscar de olho feito na véspera por Pedro Passos Coelho aos socialistas descontentes. José Sócrates foi o primeiro.
"É um apelo patético e despropositado. Então, apela ao centro-esquerda em Portugal para que vote num novo referendo sobre a interrupção voluntária da gravidez, apela ao centro-esquerda para que ponha em causa o SNS, a escola pública, a proibição do despedimento individual sem justa causa. É um apelo ao voto inútil", gracejou.
Mas o verdadeiro contra-golpe haveria de ser dado à noite, durante o comício de Setúbal, Por António Vitorino. O socialista vincou que, das próximas eleições, sairá um governo liderado ou pelo PS ou pelo PSD. "Não há uma terceira opção", disse, lançando então um apelo ao voto dos sociais-democratas "desiludidos com este PSD".
"Os tempos não estão para experimentalismos, aventureirismos, nem para colocarmos os destinos do país nas mãos de um inexperiente", acentuou Vitorino, defendendo uma verdadeira "convergência nacional" para enfrentar os próximos tempos que "serão duros e difíceis".
Não foi só no PSD que António Vitorino foi à procura de votos. Também pescou nos partidos mais à Esquerda - leia-se CDU e BE -, mesmo admitindo que exista algum descontentamento com o Governo. "O voto de protesto pode abrir o caminho do poder para as Direita", avisou.
De resto, José Sócrates continua a agarrar com as forças que ainda lhe restam o argumentário que vem utilizando praticamente desde a queda do Governo. Diabolizar a Direita de Passos Coelho - a de Paulo Portas até lhe tem dado jeito para atacar o PSD - é o objectivo principal.
Logo pela manhã, começou por dizer que aquilo que vai estar em causa nas próximas eleições é o Serviço Nacional de Saúde, a escola pública e a protecção do trabalho. E, com a ajuda de Portas, ironizou: "Chegou ao ponto de o CDS dizer que, no plano social, o seu programa está mais à Esquerda do que o do PSD." Fê-lo na presença das figuras da Cultura (ver texto ao lado) e repetiu-se, mais tarde, na Lourinhã, em Almada - com o Cristo Rei como testemunha - e na Brandoa, perante centenas de idosos.
Os mesmos idosos que ouviram Ferro Rodrigues, cabeça-de-lista por Lisboa, afirmar que um voto nulo ou em branco "é um voto desperdiçado", um voto nos partidos mais à Esquerda é "um voto perdido" e um voto ao Centro é "um voto no insulto, na agressão". Ora, disse ele, sobra o "voto no PS". E fez votos para que votem nele.