"Se tivéssemos ganho fazíamos uma festa mais forte. Perdemos, paciência... faz-se na mesma". O vaticínio de Mariano Preto teve coro na meia centena presente na sardinhada organizada, ontem à noite, na aldeia fronteiriça e comunitária de Rio de Onor, em Bragança, para ver na televisão o jogo entre Espanha e Portugal.
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Seriam uns quarenta portugueses e uma meia dúzia de espanhóis que vivem em Riohonor de Castilla, a dois passos dali. A aldeia irmã espanhola onde os locais se sentem portugueses e vice--versa. "Preferia que fossem as duas selecções às meias-finais, mas paciência", sublinhou Luís Rodriguez, que torceu pela selecção do "Guaje", a alcunha do marcador do golo que permitiu a Espanha eliminar Portugal - David Villa.
A bem da verdade, Luís mal se ouviu quando surgiu o tento espanhol. Nem ele nem os outros de Riohonor se manifestaram. Não porque estivessem em minoria, mas porque por estas bandas de fronteira, onde portugueses e espanhóis se têm uns aos outros durante todo o ano, as tristezas de uns são as de todos. "Já tínhamos combinado que, ganhasse um ou outro, não ia haver chatices", justificou Amândio Fernandes.
À mesa, o interesse no jogo foi rivalizando, primeiro, com umas terrinas repletas de camarão, depois, com as travessas de sardinhas. A espaços ouviam-se os característicos "uuuuiiiiisss" de quem sofre pelas quinas. Mas o jogo terminou e a merenda ganhou toda a atenção, entre desabafos mais ou menos serenos. Depois houve fêveras grelhadas na brasa e música. "Não morreu ninguém, portanto siga a festa", clamava Mariano Preto. O que se passou? "Passou que na nossa Selecção os jogadores estavam como mortos. Mas paciência…"
No café da Associação de Rio de Onor, as entrevistas dos jogadores na televisão iam sendo acompanhadas por discussão. Hoje já não será nada. Nas duas aldeias irmãs de Onor a vida seguirá tranquila. Quiçá as conversas voltem aos problemas do dia-a-dia. Com o despovoamento à cabeça. No lado português sobra meia centena de pessoas. No lado espanhol resiste uma vintena. "Qualquer dia não haverá cá ninguém", desabafava Manuel Milin.