Apesar dos esforços dos partidos para desempatar os blocos nacionalista e independentista, mantém-se a sombra da ingovernabilidade na Catalunha.
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Cerca de 5,2 milhões de eleitores escolhem esta quinta-feira os 135 deputados que irão compor o próximo Parlamento da Catalunha. Depois de uma campanha tensa e dividida, marcada pelo exílio de alguns candidatos e pela manutenção em prisão de outros, espera-se uma participação histórica nestas eleições, consideradas decisivas para o futuro da comunidade autónoma.
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Convocadas pelo primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, após a intervenção do Estado na Catalunha, as eleições irão determinar se o setor independentista repete a maioria absoluta, ou se, do outro lado, os partidos constitucionalistas conseguem um resultado que lhes permita governar.
A disputar a vitória até ao último momento, o Ciudadanos, de Inès Arrimadas, garante "enterrar o processo separatista", enquanto a Esquerda Republicana, de Oriol Junqueras, promete "construir a república".
No entanto, o cenário político catalão está de tal forma fragmentado, com sete partidos a disputar o voto dos eleitores, que há pelo menos quatro formações com possibilidade de aspirar a formar Governo. Com um desfecho totalmente incerto, a única garantia é a de que nenhum dos possíveis vencedores poderá governar sozinho e que os pactos pós-eleitorais terão que abranger pelo menos três formações políticas.
Embora o candidato do Partido Socialista catalão (PSC), Miquel Iceta, seja o quarto em intenções de voto, tem surgido nos últimos dias como o mais bem colocado para assumir a presidência, caso o "bloco" não independentista consiga ficar à frente.
Dos partidos "constitucionalistas", que apoiaram a aplicação do art.º 155.º da Constituição de Espanha, que suspendeu a autonomia da região, o PSC é o único em condições de conseguir a abstenção do Catalunya en Comú (braço catalão do Podemos). Embora as sondagens apontem para que a formação de Xavier Domènech seja a quinta força política na região, há poucas dúvidas de que esta terá um papel decisivo na escolha do próximo presidente da Generalitat.
Tudo vai depender, contudo, da aritmética que se possa fazer com o conjunto dos resultados. Apesar dos esforços dos partidos para desempatar os dois blocos, mantém-se a sombra da ingovernabilidade e da repetição de eleições.
Inès Arrimadas
É andaluza, jovem, bonita e casada com um político da concorrência. Todas as características que lhe valem ataques de todos os lados. Indiferente - ou talvez apenas com uma enorme capacidade de encaixe e resposta -, a advogada Inès Arrimadas, 36 anos e adepta do Barça, catapultou o Ciudadanos na terra onde o partido nasceu pela mão de Albert Rivera. De tal forma que, em seis anos de política, chegou ao topo das intenções de voto. Esposa do independentista Xavier Cima, é o rosto da unidade de Espanha: "Os meus pais vivem na Andaluzia. Não vou permitir que lhes peçam o passaporte para virem visitar-me".
Oriol Junqueras
Dizem que tem uma personalidade "cardinalícia" ("La Vanguardia"), aura invisível nesta campanha: Oriol Junqueras é um dos independentistas acusados de sedição e rebelião presos após a declaração da independência que não foi libertado sob fiança. O líder da Esquerda republicana passou os dois últimos meses na prisão de Estremera, em Madrid. Foi ele quem insistiu com a dita declaração, quando Puigdemont tergiversava. Não obstante, o doutor em História do Pensamento Económico lidera as sondagens. Nasceu em Barcelona, trabalhou em rádio e TV, é autarca e docente universitário e diz que se fez independentista aos oito anos.