A exportação para a Irlanda do Norte de salsichas e outras carnes processadas provenientes da Grã-Bretanha está em risco de ser banida e só um acordo entre Londres e Bruxelas até ao final do mês pode salvar cachorros e hambúrgueres britânicos. Os ingleses dizem que o caso é "absurdo" e pedem explicações à União, que está a apertar o cerco.
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As salsichas produzidas na Grã-Bretanha poderão, em breve, ser proibidas de entrar na Irlanda do Norte. Isto porque as regras de segurança alimentar da União Europeia, a que o país obedece, não permitem a entrada no mercado europeu de produtos de carne processada com origem em Estados não-membros, como o Reino Unido.
O problema, que se estende a outros produtos alimentícios, está numa parte do acordo do pós-Brexit chamada Protocolo da Irlanda do Norte, que o Reino Unido e a União Europeia negociaram e que entrou em vigor em janeiro deste ano. Para evitar uma fronteira física com a vizinha República da Irlanda (membro da União Europeia), o protocolo mantém a Irlanda do Norte (o único país do Reino Unido não situado na Grã-Bretanha) no mercado europeu e na união aduaneira de mercadorias, estipulando controlos sobre alguns produtos que aí chegam provenientes de Inglaterra, Escócia e País de Gales.
Ao contrário destes três países, que deixaram de cumprir as regras da UE por causa do Brexit, a Irlanda do Norte continua a seguir o grupo comunitário por partilhar uma fronteira terrestre com um país da União Europeia. Assim, os camiões de mercadorias da Grã-Bretanha podem atravessar as Irlandas sem serem inspecionados. Mas, à luz do novo acordo, algumas mercadorias (como carne, leite, peixe e ovos) devem ser inspecionados nos portos da Irlanda do Norte, para garantir que os padrões da UE são atendidos. O novo sistema teve um início instável, com a União a dizer, em fevereiro, que os postos de controlo ainda não estavam totalmente operacionais e que algumas mercadorias estavam a entrar sem serem devidamente declaradas.
O ministro do Ambiente do Reino Unido, George Eustice, diz que a questão das salsichas é "absurda" e defende que a UE precisa de dar uma "explicação satisfatória" sobre a razão pela qual as vendas do produto para a Irlanda do Norte são "um problema". Por seu lado, a União avisou que vai agir com "firmeza" se o Reino Unido não introduzir controlos sobre sobre as mercadorias que chegam à Irlanda do Norte, negociados no âmbito do acordo.
Falhas nos supermercados e ameaças à segurança
Com objetivo de assegurarem a manutenção dos suprimentos, os supermercados da Irlanda do Norte têm, desde janeiro, um período de adaptação de seis meses para prepararem a aplicação das regras de verificação de carnes refrigeradas, e outro de três meses para determinados produtos alimentícios como leite e ovos. Ainda assim, no início do ano, houve algumas perturbações, com alguns produtos frescos a faltarem nas prateleiras.
Em março, o Reino Unido decidiu, de forma unilateral, estender até outubro o período de adaptação durante o qual as regras do acordo não se aplicam (que, segundo os termos do protocolo, terminaria no fim de junho). Mas a UE não viu bem a decisão britânica, que disse violar a lei internacional - o que Boris Johnson nega -, e lançou uma ação legal que pode terminar com o Tribunal de Justiça da União Europeia a impor multas ao Reino Unido.
As fiscalizações foram temporariamente suspensas no início de fevereiro devido àquilo que foi descrito como ameaças "assustadoras" a alguns funcionários da fronteira que fiscalizavam as mercadorias. Os unionistas da Irlanda do Norte (defensores da manutenção da nação no Reino Unido) opõem-se aos controlos porque não querem ser tratados de maneira diferente do resto da união de quatro países.