O cofundador da Fundação Anticorrupção de Alexei Navalny, Vladimir Ashurkov, afirmou estar convencido de que o opositor russo foi morto para impedir que fosse libertado numa troca com prisioneiros estrangeiros.
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"Houve negociações sobre uma potencial troca de prisioneiros do lado ocidental e do lado russo, que decorreram durante alguns meses", confirmou Vladimir Ashurkov, durante um evento em Londres organizado pela Associação de Imprensa Estrangeira no Reino Unido que a agência Lusa acompanhou.
A negociação, adiantou o representante, incidia sobre uma lista composta por vários nomes que incluía o agente russo Vadim Krassikov, preso na Alemanha, o jornalista do "Wall Street Journal" Evan Gershkovich e Alexei Navalny.
"Sei que decisões importantes que tornaram isto possível foram tomadas recentemente no lado ocidental", disse Ashurkov, que era aliado e um amigo próximo de Navalny.
Porém, prosseguiu, Moscovo, "ao tomar conhecimento do facto de que estas decisões tinham sido tomadas e que abriam a porta a tal troca, decidiu assassinar Navalny".
"A lógica cínica por trás disso foi que, tendo uma decisão de princípio sobre a troca sido tomada e Navalny já não estar disponível, possivelmente um acordo diferente pode ser feito, com uma composição diferente de pessoas a serem trocadas do lado russo", acrescentou.
A equipa de Alexei Navalny confirmou na passada quarta-feira que estava "em curso e na fase final" um acordo para a troca de prisioneiros que incluía o opositor russo, que morreu numa colónia penal no Ártico, onde cumpria uma pena de 19 anos.
A Rússia detém vários cidadãos norte-americanos, entre os quais o jornalista do "Wall Street Journal" Evan Gershkovich, preso desde março de 2023 por "espionagem" - acusação rejeitada tanto pelo repórter como pelo jornal norte-americano -, e um antigo fuzileiro naval, Paul Whelan.
A morte de Navalny foi anunciada no dia 16 de fevereiro pelos serviços prisionais russos. As autoridades russas, que indicaram que Navalny se sentiu mal depois de uma caminhada e perdeu a consciência, declararam entretanto que o opositor morreu de "causas naturais".
A família de Navalny conseguiu recuperar o seu corpo no sábado, dia 24 de fevereiro, e a equipa do dissidente russo anunciou que o funeral vai realizar-se em Moscovo na sexta-feira.
Destacados dirigentes ocidentais, a família e apoiantes do opositor responsabilizam o presidente russo, Vladimir Putin, pela sua morte.
Esta quarta-feira, numa intervenção no Parlamento Europeu, em Estrasburgo (França), a viúva de Navalny, Yulia Navalnaya, voltou a acusar as autoridades russas, lideradas por Putin, de terem orquestrado a morte do ativista anticorrupção.
No hemiciclo europeu, Yulia Navalnaya afirmou que o "assassinato público" do seu marido, a 16 de fevereiro, mais uma vez mostrou a todos que "Putin é capaz de qualquer coisa e que não se pode negociar com ele".