Com apenas 15 anos, jovem ucraniana fugiu de Lugansk para Kharkiv à procura de segurança. Em fevereiro do ano passado viajou para a Noruega e agora está em Odessa
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O conta-quilómetros da vida de Alina Korduikova soma já mais do que seria de esperar. Há demasiados anos que foge de explosões e bombardeamentos, ameaças que cruzam os céus e enegrecem os dias. Desde 2015 que acumula distâncias e salta de cidade em cidade à procura de segurança. Com apenas 23 anos, a jovem ucraniana é refugiada no próprio país.
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Atrás do balcão do California Republic, Alina organiza os pedidos de refeição que serão levantados em breve pelos estafetas. O restaurante de inspiração americana abriu em setembro do ano passado, quando o proprietário decidiu migrar o conceito de Mykolaiv para acompanhar os clientes e funcionários que se mudaram para Odessa, a cerca de 130 quilómetros de casa. O espaço descontraído, onde a música de Britney Spears e Avril Lavigne se ouve nas colunas, emprega 35 pessoas de diferentes regiões do país.
Alina é uma delas. Instalou-se na cidade no Sul da Ucrânia na primavera, depois de uma longa viagem provocada pela guerra. Quando a invasão estalou vivia no Norte, a poucos quilómetros da fronteira com a Rússia, na segunda maior cidade do país e primeira a ser devastada pelo exército de Putin. Não se esquece do estrondo que ouviu em Kharkiv, naquela madrugada.
"Ouvimos um barulho, como uma bomba. Nós conhecíamos aquele barulho, já o tínhamos ouvido em 2015. Voltamos a ouvi-lo e sabíamos que ia ser o pânico". Foi precisamente para escapar ao som da artilharia que Alina partiu de Lugansk, há seis anos. Tinha 15. Em Kharkiv acolheu a irmã, concluiu os estudos e sonhava com o futuro. "Em janeiro do ano passado licenciei-me e estava muito feliz. Em fevereiro comecei a trabalhar como professora de inglês e tinha imensos planos para os próximos meses. A minha mãe veio visitar-nos e três dias depois de ela ter ido embora, a guerra começou. Foi a última vez que vi a minha mãe", lamenta.
Ainda antes de chegar a Odessa, a ucraniana passou semanas a fio num centro de refugiados na Noruega. Sempre a somar quilómetros de guerra. Cresceu a pulso pela dureza das circunstâncias e a maturidade nota-se no tom sério das palavras, na forma como direcionar o olhar. Já se habituou a ser nómada. "Acho que já faz parte da minha vida. Apenas tenho que aceitar e aprender a viver com isso". Para já, Alina está tranquila em Odessa. Voltou a dar aulas de inglês e integra a equipa do California Republic. "O sítio é incrível e o grupo é excelente".
Restaurante com cariz humanitário
A resiliência de Alina é espelhada no restaurante de Andriy Mykhaylyuk, um empresário de 44 anos que foi contra a corrente e decidiu investir em plena guerra. No espaço original, em Mykolaiv, as rotinas sofreram drásticas alterações e o restaurante foi movido para o subsolo para estar a salvo dos bombardeamentos. Para além da venda ao público, o California Republic envolveu-se na ajuda humanitária e serviu refeições a médicos, bombeiros ou militares ucranianos.
Andriy não tem dúvidas de que a união da equipa foi o alicerce que permitiu sustentar o negócio, mas não esconde o sufoco que tem vivido nos últimos meses. "Quando trabalhas num restaurante que faz entregas, os teus funcionários estão por toda a cidade. E quando uma bomba explode, a primeira coisa a fazer é ver se toda a gente está bem, se ninguém está ferido ou morto. Esses momentos marcaram-me muito, acho que foram os mais difíceis da minha vida".
Agora, há mais normalidade em Mykolaiv. De acordo com o empresário, a situação está a recuperar gradualmente. As marcas emocionais, essas, serão sempre as mais difíceis de lidar.