Almoço longo e horas por explicar: a tarde de ex-presidente e jornalista em dia de cheias em Valência

Novos relatos levantam dúvidas sobre o tempo do ex-presidente de Valência com a jornalista
Foto: Direitos Reservados
O ex-presidente da região de Valência, em Espanha, Carlos Mazón, está a ser alvo de críticas devido a um período de várias horas que passou com uma jornalista quando enchentes repentinas atingiram a região no ano passado.
Corpo do artigo
Mazón, do conservador Partido Popular, já tinha declarado que iria renunciar ao cargo devido às críticas à gestão da crise que assolou Valência há um ano. Grande parte da indignação devia-se ao facto de o Governo regional ter esperado até depois das 20 horas locais para enviar um alerta de emergência por SMS aos habitantes de Valência, avisando-os para ficarem em casa. Nessa altura, a maioria das vítimas já tinha morrido.
Leia também Mazón demite-se em Valência e culpa Madrid. Famílias das vítimas da DANA e PSOE condenam
Segundo a emissora britânica BBC, Mazón não supervisionou as reuniões de emergência durante grande parte do dia porque estava a almoçar com uma jornalista local, identificada como Maribel Vilaplana. Durante um interrogatório esta quarta-feira, o chefe de gabinete de Mazón, José Manuel Cuenca, afirmou que o governante já tinha conhecimento da "gravidade da situação" em algumas áreas às 15 horas, horário em que começava o almoço.
A refeição, que custou 165 euros, durou quase quatro horas. No entanto, agora, novos relatos contradizem as suas versões sobre o que aconteceu depois do almoço no restaurante El Ventorro. Segundo Vilaplana, a jornalista e o governante saíram do restaurante por volta das 18.45 horas e caminharam a curta distância até ao estacionamento onde ela tinha deixado o carro, antes de se separarem. Já Mazón apresentou uma versão semelhante dos acontecimentos. A jornalista acrescentou que passou algum tempo no carro a responder a mensagens no telemóvel e a fazer anotações no computadores. Dados do cartão bancário de Vilaplana mostraram que a jornalista saiu do estacionamento às 19.47 horas.
Porém, de acordo com o jornal local "Levante", a jornalista levou Mazón de carro até à sede do governo regional, onde o deixou por volta das 20 horas. Assim, terão estado juntos desde o início da refeição até àquele momento. Até então, a cronologia dos movimentos de Mazón não contabilizava os 37 minutos que antecederam a saída de Vilaplana do estacionamento, período em que os seus registos telefónicos mostram que não atendeu diversas chamadas recebidas. As imagens de videovigilância não esclarecem onde Mazón esteve entre a saída do restaurante e a chegada à sede da agência de emergência local às 20.28 horas.
Segundo alguns meios de comunicação, que citam fontes policiais, o governante foi a casa, tomou banho e possivelmente fez uma sesta antes de ir para a sede do governo e, em seguida, para a agência de emergência. Já Mazón negou ter apanhado boleia da jornalista, dizendo que fez o caminho a pé e sem paragens.
Mudanças na história
As novas informações revelam mudanças nos relatos dos dois protagonistas, de acordo com o jornal espanhol "El País". A jornalista mudou a sua versão três vezes num ano. Um mês após o temporal, Vilaplana disse que se despediu de Mazón às 17.45 horas. Mais tarde, corrigiu-se, afirmando que foi uma hora depois. Após saber que o juiz a havia intimado como testemunha, condição que a obrigava a dizer a verdade, revelou que o presidente a acompanhou até ao parque de estacionamento.
Mazón também mudou repetidamente a sua versão dos factos. Inicialmente, afirmou ter ido à sede do governo valenciano às 17 horas. Posteriormente, adiou a sua chegada para uma hora mais tarde. Por fim, indicou ter chegado à agência de emergência "depois das 19 horas". Em fevereiro, a o governo valenciano divulgou uma imagem que mostrava que Mazón chegou ao centro da Proteção Civil às 20.28 horas.

