A Amnistia Internacional alertou, esta sexta-feira, que a comunidade internacional tem "falhado miseravelmente" no apoio aos refugiados sírios, que são já 2,3 milhões, exemplificando que o pedido de financiamento feito pela ONU só foi coberto em 64%.
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Num comunicado intitulado "Um falhanço internacional: A crise dos refugiados sírios", a Amnistia Internacional (AI) apela à comunidade internacional que garanta o financiamento dos apelos humanitários para a Síria e que apoie os principais países de acolhimento para que mantenham as fronteiras abertas e garantam a proteção dos refugiados.
Os principais países de acolhimento são o Líbano, a Jordânia, a Turquia, o Iraque e o Egito, que juntos acolhem 97% dos sírios obrigados a fugir do seu país devido ao conflito que se prolonga desde março de 2011.
No comunicado, a AI recorda declarações do alto-comissário da ONU para os Refugiados, António Guterres, que recentemente considerou que a Síria é "a grande tragédia deste século", tendo provocado uma fuga de refugiados como não se via desde o genocídio do Ruanda, há quase 20 anos.
"Apesar da enorme escala da crise dos refugiados, a comunidade internacional falhou miseravelmente na ajuda aos refugiados ou aos principais países de acolhimento", escreve a organização, sediada em Londres.
A AI recorda dos três mil milhões de dólares pedidos pela ONU em julho para apoiar os refugiados sírios, apenas 64% foram já angariados e acrescenta que, do objetivo definido pela ONU de ter 30 mil lugares disponibilizados para acolher refugiados sírios permanente ou temporariamente até 2014, a comunidade internacional só disponibilizou 15244 lugares, oferecidos por 16 países.
A UE "ofereceu apenas 12340. Isto representa apenas 0,54% do número total de refugiados sírios. É aproximadamente o número de refugiados registados no Líbano nos últimos cinco dias de novembro", escreve a AI.
No comunicado, a AI lembra ainda que,à medida que a capacidade dos países vizinhos para acolher refugiados diminui e que as condições de acolhimento se deterioram, aumenta o número de sírios que tentam entrar na União Europeia, em busca de segurança e de uma nova vida.
Nos dois anos que antecederam outubro de 2013, 55 mil cidadãos sírios pediram diretamente asilo na União Europeia, sendo a Alemanha e a Suécia os mais procurados. Portugal teve 85 pedidos de asilo, segundo dados revelados no comunicado.
Por ser "quase impossível aos refugiados e requerentes de asilo entrar na Europa legalmente", estes são forçados a "duras viagens, arriscando a vida em barcos ou por terra", alerta a AI.
Muitos tentam atravessar o mar Egeu desde a Turquia até à Grécia e outros tentam atravessar da Turquia para a Bulgária por terra e, segundo uma investigação realizada pela AI, os refugiados que tentam entrar na UE por estes caminhos são vítimas de "alarmantes violações dos direitos humanos", incluindo detenções que duram semanas em más condições na Bulgária e perigosas operações em que são recambiados pelas autoridades gregas.
Além do apelo à comunidade internacional em geral, a AI insta a UE e os 28 Estados-membros a aumentarem a capacidade de busca e salvamento no Mediterrâneo, para evitar a morte de refugiados na travessia; a garantirem que aqueles que são resgatados são tratados com dignidade e com respeito pelos seus direitos humanos, incluindo o direito a pedir asilo.
Apela ainda ao fim das "operações ilegais" que visam enviar os refugiados de volta à origem e que negam os direitos humanos dos requerentes de asilo, particularmente na fronteira entre a Grécia e a Turquia.