O governo talibã criticou, esta quinta-feira, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, por ter classificado as políticas do regime fundamentalista relativamente às mulheres no Afeganistão como insensatas.
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"Condenamos energicamente as irresponsáveis declarações do secretário-geral da ONU, que qualificou de "insensatas" as medidas relativas às mulheres no Afeganistão", afirmou o porta-voz talibã, Zabihullah Mujahid, num comunicado publicado nas redes sociais.
Guterres condenou no início da semana em Nova Iorque a proibição de mulheres afegãs trabalharem em agências da ONU, medida que agrava a crise humanitária no país ao dificultar a chegada de ajuda vital.
"O chefe das Nações Unidas deve estar consciente do significado das suas palavras e evitar o uso de linguagem inapropriada", disse Mujahid, pedindo a Guterres cautela na escolha das palavras.
O porta-voz do regime talibã defendeu as restrições impostas às mulheres, alegando que se baseiam em princípios religiosos.
"As normas e diretrizes relativas a mulheres e homens no Afeganistão assentam na lei islâmica 'sharia' e estão em conformidade com ela", afirmou no comunicado, citado pela agência de notícias espanhola EFE.
Mujahid disse ainda que as críticas à interpretação talibã da lei islâmica resultam de falta de compreensão.
"Se alguém não tem conhecimento suficiente sobre a 'sharia', é um problema dessa pessoa e, em vez de acusar os outros, deveria completar o seu próprio entendimento", declarou.
Académicos contra proibição da educação
Académicos religiosos no Afeganistão sustentam que a proibição da educação e do emprego para mulheres e raparigas não tem fundamento na 'sharia', sugerindo que o governo talibã poderá estar a considerar outros fatores.
"Não existe qualquer proibição na 'sharia' contra a educação das mulheres e o seu direito ao trabalho. É possível que o governo talibã esteja a ter em conta outras considerações ao aplicar estas proibições", declarou o estudioso Saleh Mohammad Islampur à EFE.
Os talibãs regressaram ao poder no Afeganistão em 2021, duas décadas depois de terem sido derrubados pelos Estados Unidos por terem acolhido o líder da Al-Qaida, Osama bin Laden, na sequência dos atentados de 11 de setembro de 2001.
Os talibãs são considerados fundamentalistas e impuseram regras muito rígidas no país do centro da Ásia por questões religiosas, incluindo a proibição do acesso ao ensino das raparigas.
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) denunciou na quarta-feira que o regime impediu o acesso à educação a mais de 2,2 milhões de raparigas nos últimos quatro anos no Afeganistão.