O comandante-geral da Polícia da República de Moçambique, Jorge Khalau, acusou Momade Abdul Satar, condenado pelo assassínio do jornalista moçambicano Carlos Cardoso, de ser o "patrão dos raptos" que assolam o país, noticia, esta sexta-feira, a imprensa local.
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Momade Satar, reconhecido pela alcunha de "Nini", cumpre uma pena de prisão de 24 anos na Cadeia de Alta Segurança da Machava, nos arredores de Maputo, pelo seu envolvimento no assassínio de Carlos Cardoso, morto a tiro na capital moçambicana, em 2000.
Ao longo dos últimos dois meses, a imprensa moçambicana crítica ao Governo tem vindo a publicar uma série de cartas assinadas por "Nini" e dirigidas a altas figuras da polícia e da procuradoria moçambicana, em que o detido dá indícios de estar a colaborar com as autoridades "com vista à detenção dos malfeitores", supostamente envolvidos na vaga de raptos, que se verifica em Moçambique desde 2011.
"Devo esclarecer que Nini não está a ajudar a polícia na identificação dos raptores, como alguma imprensa procura dar a entender. A única verdade é que Nini é o patrão dos raptos e a polícia vai continuar a exercer o seu papel no combate a este fenómeno, que, felizmente, estamos a vencer aos poucos", afirmou o comandante da polícia moçambicana, numa entrevista hoje publicada pelo matutino Notícias.
Desde que foi condenado, "Nini" tem demonstrado por diversas ações, como o uso de telemóveis, alguma facilidade em quebrar regras de segurança, normalmente associadas às prisões, sobretudo as de alta segurança.
Nas cartas que tem vindo a dirigir às autoridades moçambicanas aparenta ter um amplo conhecimento sobre os casos de rapto, incluindo os autores dos crimes, a identidade das vítimas, assim como os montantes pagos pelos seus familiares aos raptores para a sua libertação.
"Foi graças a mim, repito: graças a mim, que existem raptores já condenados e alguns que aguardam julgamento e outras gangs que a polícia está no encalço. Tudo isso foi fruto da minha estreita colaboração com as autoridades", lê-se numa das mensagens que dirigiu ao procurador-geral de Moçambique, Augusto Paulino, e em que se demarca de estar envolvido nos casos de raptos.
Sobre as possíveis provas do envolvimento de "Nini" nestes crimes, Jorge Khalou adiantou que "são aqueles [criminosos] que vão sendo neutralizados que têm revelado que ele é que é o patrão dos raptos".
"A profissão de Nini é orientar o crime organizado e, infelizmente, vai tentando nos enganar dizendo que não sabe de nada ou que está a colaborar. É tudo mentira. Ele é que comanda os raptos", garantiu o comandante da polícia moçambicana.
Em 2013, durante o julgamento de um grupo de raptores, o Ministério Público procurou provar o envolvimento de Momade Satar no caso, mas a tese da acusação foi descartada por falta de provas pelo magistrado responsável, o juiz Adérito Malhote.
Desde 2011, pelo menos quatro dezenas de casos de rapto foram registados em Moçambique, alguns dos quais envolvendo cidadãos portugueses.
O mais recente deu-se em abril e vitimou um septuagenário português, que esteve em cativeiro durante cerca de três semanas, até ser libertado pelos seus raptores a troco de um resgate, cujo montante se desconhece.