BBC é acusada de sexismo e reconhece título "inadequado" sobre saída de Jacinda Ardern
"As mulheres podem mesmo ter tudo?", questionou o meio britânico num artigo sobre a renúncia de Ardern ao cargo de primeira-ministra da Nova Zelândia. Chuva de comentários com acusações de sexismo e misoginia levou-o a alterar a notícia, reconhecendo o erro.
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À surpresa gerada pela renúncia da primeira-ministra da Nova Zelândia ao cargo seguiu-se a revolta, nas redes sociais, pela forma como a BBC News avançou a notícia. "Jacinda Ardern renuncia: as mulheres podem mesmo ter tudo?" foi o título escolhido para o artigo do órgão de comunicação social britânico, a analisar a conjugação dos papéis de mãe e chefe do Governo.
A abordagem gerou várias críticas e acusações de sexismo. "É uma vergonha, BBC", defendeu uma das leitoras, referindo-se a Ardern como "uma heroína" que conseguiu inspirar muitas mulheres. "Que título absurdo, ignorante e sexista. Jacinda teve imensa coragem ao retirar-se quando achou que devia fazê-lo. Grande parte dos políticos estão exaustos, mas preferem ficar além do seu tempo", pode ler-se num dos comentários. "Um título claramente escrito por um misógino", atirou outro utilizador do Twitter.
Face ao eco gerado pelo artigo, a BBC reconheceu, esta sexta-feira, a abordagem "inadequada" dada ao tema. "Reconhecemos rapidamente que o título original era inadequado e mudámo-lo. Também excluímos o respetivo tweet", afirmou à AFP fonte ligada ao meio de comunicação.
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Após cinco anos e meio, Jacinda Ardern, de 42 anos, anunciou a renúncia ao cargo, explicando não ter "energia" para disputar outro mandato.
O anúncio foi feito na quinta-feira, em conferência de imprensa. "Dei tudo de mim para ser primeira-ministra, mas isso também exigiu muito de mim", explicou. "Não posso e não devo fazer o trabalho a menos que tenha um tanque cheio e um pouco de reserva para os desafios não planeados e inesperados que inevitavelmente surgem. Tendo refletido no verão, sei que não tenho aquele extra no tanque para fazer justiça ao trabalho. É simples", acrescentou.
Ardern assegurou ainda que a sua decisão não está baseada em "nenhum escândalo desconhecido". "Sou humana. Damos tudo o que podemos pelo tempo que podemos e então chega o momento. Para mim, é o momento", reiterou.
O Partido Trabalhista deve agora eleger no domingo o novo líder da força partidária e o novo primeiro-ministro. Ainda assim, segundo o NZ Herald, o eleito deverá governar apenas até 14 de outubro, data em que se realizam as eleições legislativas.
De referir que Jacinda Ardern, que se tornou primeira-ministra em agosto de 2017, foi a pessoa mais jovem da história da Nova Zelândia a ocupar o cargo. Liderou durante momentos de crise, nomeadamente com a pandemia, uma erupção vulcânica mortal e o pior ataque terrorista do país, e foi a primeira mulher a levar a filha bebé para uma assembleia da ONU, em 2018. "Uma decisão prática", descreveu, na altura.