Uma camisa que o rei Carlos I terá usado quando foi decapitado em Londres em 1649 vai ser exposta no Museu de Londres, numa exposição que abre hoje sobre as execuções públicas na capital britânica ao longo de 700 anos.
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A camisa de seda azulada foi adquirida em 1924 juntamente com uma nota indicando a origem, mas o próprio museu admite "inconsistências" na história e testes feitos às manchas existentes foram inclusivos sobre se são sangue do rei.
"Foram feitos testes com luz ultravioleta que indicam que as manchas são fluidos corporais", disse a programadora da exposição, Beverley Cook, o que pode incluir sangue, mas também suor ou vómito ou até nódoas de alimentos e bebidas.
Como já passou tanto tempo, a reação normal das manchas de sangue de se tornarem escuras quando expostas às luzes ultravioleta pode já não ocorrer, embora a camisa seja da época.
Carlos I foi julgado por traição e condenado à morte após uma guerra civil no país, tendo um servo, Thomas Herbert, relatado que o rei pediu uma segunda camisa para não ser visto a tremer para que as pessoas não pensassem que estava com medo.
A decapitação, em 30 de janeiro de 1649, numa plataforma em Whitehall, não muito longe do parlamento britânico, foi observada por milhares de pessoas e chocou a Europa na altura.
O suplício do monarca terá sido a mais famosa execução pública no país, onde existem registos públicos de terem acontecido entre 1196 e 1868, seja por enforcamento, esquartejamento, morte na fogueira ou cozimento em água.
Ao longo de 700 anos, esta prática sacrificou milhares de pessoas por cerca de 200 tipos de crimes diferentes, desde dissidência religiosa, envenenamento, traição, roubo ou conspiração, merecendo a Londres o epíteto de "cidade das forcas".
A exposição do edifício do Museu de Londres Docklands reúne dezenas de objetos, desde gravuras livros de registos a machados usados em decapitações, gaiolas onde os corpos eram pendurados para exposição ou cartas de despedida ou pedidos de perdão.
A demonstração de poder e de violência do Estado tornou-se também uma forma de entretenimento, atraindo até 100.000 pessoas, revela a exposição, alimentando uma economia paralela de venda de comida, panfletos e lugares em locais com melhor visibilidade.
Num ecrã é possível ler uma lista de 5.000 nomes de pessoas mortas e respetivas sentenças, algumas apenas adolescentes.
A programadora da exposição, Beverley Cook, disse que é possível aos visitantes da exposição identificarem-se com as histórias individuais ou com os problemas daquela época que ainda afetam a sociedade atual, como a pobreza.
"Temos histórias de pessoas que alegaram serem vítimas de más companhias, o que se pode comparar quase aos gangues de agora nas cidades, e vítimas de violência doméstica, com muitas pessoas condenadas por matarem os parceiros", contou Beverley Cook.
As execuções, explicou a responsável, eram um sinal da "dificuldade do Estado em proteger a população do crime e uma forma de mostrar que a justiça era feita", algo que equiparou à transmissão televisiva das sentenças judiciais, iniciada recentemente no Reino Unido.
A exposição vai permanecer até 16 de abril de 2023 na filial do Museu de Londres na zona de Docklands, num antigo armazém no este da cidade, aberto em 2003 para contar a história e papel da capital britânica relacionada com o rio e o comércio.
O edifício principal do Museu de Londres, na London Wall desde 1976, vai encerrar em dezembro e reabrir em 2025 numa nova localização, no antigo mercado Smithfield.