Hillary Clinton e Donald Trump, principais candidatos à presidência, endurecem discursos. A democrata está ligeiramente à frente nas sondagens.
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Está próxima do ocaso uma campanha tida como das mais lamentáveis na história das eleições presidenciais norte-americanas. Na terça-feira, Hillary Clinton e Donald Trump ficarão a saber para qual deles pendeu a estratégia de terra queimada em termos de ideias e propostas para um país de 325 milhões de habitantes e mais de 200 milhões de eleitores. Para já, segundo a mais recente sondagem, a democrata tem vantagem sobre o republicano.
O inquérito CBS/"New York Times", de quinta-feira, dá à ex-secretária de Estado 45% das intenções de voto, contra 42% para o empresário. Uma sondagem anterior, de meio de outubro, atribuía a Clinton uma vantagem de nove pontos percentuais.
De qualquer modo, a eventual primeira mulher presidente dos Estados Unidos beneficia, segundo projeções de ontem do jornal "New York Times", de 85% de probabilidades de triunfo. O site FiveThirtyEight reduz essa probabilidade para 64,6%.
Complementarmente, a sondagem CBS/"New York Times" indica uma divisão profunda: Clinton tem vantagem de 14 pontos percentuais junto das mulheres, Trump um avanço de 11 pontos nos homens.
Por outro lado, apesar de mais de seis norte-americanos em dez afirmarem já ter escolhido e garantirem que a sucessão de revelações dos últimos dias não os fará mudar de opinião, a verdade é que Trump - durante muito tempo atrás nas sondagens - obteve um segundo fôlego com o anúncio da reabertura, pelo FBI, da investigação aos emails enviados de um servidor privado pela então secretária de Estado (2009-13). O empresário chegou mesmo a estar à frente, com vantagem de um ponto percentual, numa sondagem ABC/"The Washington Post".
"Emails" de volta à estrada
Pois bem, a antiga primeira-dama - que utilizou um endereço eletrónico pessoal para assuntos de trabalho, muitos de natureza confidencial - deve estar a viver uma tenebrosa sensação de "déjà vu".
A polémica foi reavivada com a divulgação de novos documentos pelo FBI - considerados "pertinentes" - e pelo anúncio da Polícia federal, a semana e meia das eleições, de que iria reabrir a investigação sobre o caso. Isto depois de, em julho, o FBI ter recomendado que Clinton não fosse investigada judicialmente, apesar de concluir, no inquérito, que a ex-secretária de Estado tinha demonstrado "extrema negligência" ao ter usado uma conta de email pessoal para assuntos governamentais.
Agora, nos derradeiros dias de campanha, o diretor do FBI, James Comey, anuncia que a Polícia federal ia dar "passos apropriados de investigação" para decidir se o novo conjunto de mensagens de correio eletrónico continha informação classificada e para "decidir da respetiva importância para a investigação".
A democrata classificou como "extraordinário" o facto de esta decisão ocorrer a 11 dias das eleições.
Mais do que nunca, agora vale tudo
É o mais recente episódio de uma campanha que foi generosa em acusações de assédio sexual e de adultério, comentários misóginos, corrupção, tráfico de influências, intolerância religiosa e racial, termos sexualmente explícitos, ameaças de prisão e reptos para a realização de testes de despistagem de drogas.
Aliás, os dois abandonaram agora qualquer subtileza no ataque. O republicano afirmou recentemente que a eleição da adversária poderia provocar uma "crise constitucional sem precedentes" e mesmo uma "terceira Guerra Mundial". A democrata já só de passagem fala do programa político. Os seus comícios tornaram-se sessões de citação das piores afirmações de Trump sobre as mulheres, os imigrantes e os muçulmanos.
"Meus amigos, esta não é uma eleição normal", frisou, na semana passada. Garantidamente, nunca esteve ou estará tão certa. Mais: segundo a associação americana de psicólogos, 52% dos adultos admitiram estar "stressados" com esta eleição.