Numa sessão plenária do Parlamento Europeu marcada pela guerra na Ucrânia, o JN entrevistou eurodeputados portugueses sobre as exigências e as consequências do conflito militar no futuro da União Europeia (UE). Carlos Zorrinho, chefe de delegação do PS no Parlamento Europeu, salienta que o espaço comunitário deve procurar ser mais independente, seja da Rússia ou dos Estados Unidos.
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Qual deve ser o papel e a intervenção do Parlamento Europeu perante a guerra na Ucrânia?
O Parlamento Europeu é a instituição que representa diretamente os povos da União Europeia. Uma maioria clara tem solicitado e impulsionado respostas de defesa da democracia e de condenação objetiva da invasão da Ucrânia por parte da Rússia. O Parlamento Europeu tem projetado uma resposta unida, forte e solidária de apoio ao povo ucraniano, à democracia, à paz e à liberdade, valores essenciais na União Europeia.
Quais os desafios para a União Europeia a médio e a longo prazo?
Não há guerras sem dor. Haverá efeitos colaterais, que revelam as fragilidades da União Europeia. Mas são, ao mesmo tempo, oportunidades para corrigir. A diplomacia é um dos principais instrumentos da relevância geopolítica da UE, mas não chega. Não chegou para travar Putin. É preciso reforçar as relações com a NATO. Muitos falam de um exército europeu, mas considero que esse conceito está ultrapassado. Na aliança de segurança e defesa tem de haver a componente cibernética. Depois, a União Europeia não pode ser dependente na energia: a curto prazo, dar instrumentos para controlar a subida de preços; a médio prazo, garantir o abastecimento; a longo prazo, apostar na descarbonização, na energia mais sustentável e barata. Tem de haver um maior controlo das cadeias de valor e conseguir atrair mais investimento. Se for necessário, acredito que o Parlamento Europeu tomará medidas solidárias para fazer face aos impactos da guerra.
Como fica a relação da UE com a NATO?
A relação com a NATO era boa, mas era muitas vezes incompreendida por uma parte significativa da opinião pública. Eu penso que há hoje mais europeus a perceber porque é que a União Europeia deve fazer parte da NATO. Também haverá mais europeus a perceber que, fazendo parte da NATO, temos que ser "acionistas". Ou seja, não podemos fazer parte e não ter o financiamento e os meios operacionais. Não podemos ser tão dependentes dos Estados Unidos. Sem esquecer que a União Europeia é uma parceria para a paz e a liberdade. Na NATO estaremos sempre numa aliança defensiva.
O que considera dos recentes pedidos de adesão à União Europeia de países como a Ucrânia, a Geórgia e a Moldávia?
Acho que devem ser admitidos com muita rapidez e deve haver uma negociação de acordo com os tratados. Há muitos europeus que têm um sentimento de irrelevância relativamente à União Europeia. É muito interessante verificar como outros povos e países continuam a considerar que estar na UE é importante. Um sentimento de pertença não tem de ser de concordância. Mais uma vez, a guerra na Ucrânia demonstrou como a UE é um ator fundamental no Mundo. Ver tantos tantos povos a querer aderir é um desafio, porque é preciso saber se os conseguimos acolher. Mas mostra como ainda é possível manter o sonho do Mundo baseado nos princípios fundamentais da paz, da liberdade e do Estado de direito.