Numa sessão plenária do Parlamento Europeu marcada pela guerra na Ucrânia, o JN entrevistou eurodeputados portugueses sobre as exigências e as consequências do conflito militar no futuro da União Europeia (UE). João Pimenta Lopes, deputado do PCP no Parlamento Europeu, defende que instituições europeias devem afastar-se de posição da NATO.
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Qual deve ser o papel e a intervenção do Parlamento Europeu perante a guerra na Ucrânia?
Estamos perante uma guerra, que não devia ter começado e tem de ser interrompida imediatamente. Para isso, é necessário dar passos concretos e abrir o caminho para uma via de negociações e de diálogo que possibilitem um cessar fogo. As soluções devem ser mutuamente aceitáveis para as partes envolvidas: a Ucrânia e a Rússia. Há outros atores que têm responsabilidades neste desfecho, como os Estados Unidos, a NATO e a União Europeia. As medidas que forem tomadas não podem tornar a situação ainda mais complexa e tensa.
Quais os desafios para a União Europeia a médio e a longo prazo?
É difícil perspetivar. Todo o caminho será mais difícil se o posicionamento das instituições da União Europeia e também da NATO e dos Estados Unidos for de confrontação, nomeadamente através das sanções, com prejuízos para os povos. Nos últimos dias, assistimos ao aumento do preço dos combustíveis e da energia, que não deixa de ser um resultado de fatores especulativos. Muitos dos aumentos incidem sobre produtos já adquiridos ou contratualizados ainda antes da escalada da tensão.
Como fica a relação da UE com a NATO?
O caminho tem sido de reforçar a União Europeia como o pilar europeu da NATO. O PCP tem alertado e denunciado para os riscos. A paz nunca poderá ser alicerçada na indústria militar e do armamento. Aliás, temos lembrado o que está consagrado na Constituição da República Portuguesa, que é fazer o caminho para a dissolução dos blocos políticos militares. O pacto de Varsóvia já se dissolveu, resta apenas a NATO, que é um instrumento ao serviço da política dos Estados Unidos e do domínio à escala global. É necessário valorizar o papel que as próprias Nações Unidas devem assumir na construção da paz e que não o têm feito.
O que considera dos recentes pedidos de adesão à União Europeia de países como a Ucrânia, a Geórgia e a Moldávia?
São processos morosos e não respondem ao que é necessário resolver no imediato. Como em todos os processos de alargamento, há um princípio fundamental dos povos poderem livremente decidir. Nos últimos oito anos, a Ucrânia tem criado situações de restrição à participação democrática de parte da sua população. A adesão à UE não é uma questão central para a resolução da guerra.