Os três partidos com assento parlamentar em Cabo Verde enumeraram hoje os vários ganhos que o país conseguiu nos 40 anos da sua independência, mas mostraram as incertezas quando ao futuro.
Corpo do artigo
As posições foram defendidas durante o ato central das comemorações dos 40 anos da independência de Cabo Verde pelo presidente da União Cabo-verdiana Independente e Democrática (UCID, oposição), António Monteiro, pelos líderes parlamentares do Movimento para a Democracia (MpD, oposição), Fernando Elísio Freire, e do Partido Africano para a Independência de Cabo Verde (PAICV, poder), Felisberto Vieira.
Para o presidente da UCID, as opções políticas que têm vindo a ser tomadas, "mais por interesses partidários" do que para a salvaguarda dos interesses nacionais, conduziram o país a uma situação económica e social preocupante e de "manifesta degradação".
"É preciso repensar Cabo Verde, proceder ao diagnóstico sensato dos nossos problemas de fundo e encontrar as linhas de força que deverão ser assumidas por toda a nação, e, em particular, por aqueles que têm grande responsabilidade política de gerir o país", apelou António Monteiro, que apontou o desemprego e a falta de interesse dos jovens pela vida cívica e política como outros desafios para o país.
Por sua vez, o líder do grupo parlamentar do MpD, Fernando Elísio Freire, lembrou que, além da independência, em 40 anos Cabo Verde conquistou a democracia, com a abertura política a 13 de janeiro de 1991, após 15 anos de partido único, conquistou o respeito no plano internacional, instituiu o poder local autónomo e democrático e garantiu o direito ao voto à diáspora.
"É a junção da soberania política e democracia que nos afirma como nação e nos faz acreditar num futuro de paz, liberdade, justiça e desenvolvimento", perspetivou o líder da bancada do maior partido da oposição cabo-verdiana, para quem o país enfrenta "grandes desafios", sobretudo no que diz respeito ao crescimento económico, emprego, coesão social e territorial, ameaças de segurança, integração numa economia mundial e globalizada.
"Neste sentido, é preciso uma forte aposta na economia do conhecimento. É preciso consolidar o Estado de Direito Democrático, reforçar a autonomia da sociedade civil e o primado da lei para tornar o país institucionalmente forte", defendeu Elísio Freire, que pediu "vontade política" e instituições livres para a consolidação da democracia.
Já o líder parlamentar do PAICV, Felisberto Vieira, enalteceu as conquistas e a transformação que ocorreu nas ilhas cabo-verdianas "em todos os domínios" e mostrou confiança no país em continuar a ultrapassar as vicissitudes e os problemas que o país ainda tem de enfrentar.
Considerando que o país ainda tem um "enorme trabalho pela frente", Felisberto Vieira elegeu como desafios debelar a pobreza, reduzir o desemprego, acelerar o crescimento económico, atrair mais investimentos, melhorar a produtividade, resolver questões de vulnerabilidade social, segurança pública, educação, saúde, habitação e justiça.
"Não são poucos os problemas que ainda temos de enfrentar. Mas o caminho percorrido e as dificuldades maiores que já ultrapassámos garantem-nos a 'endurance' necessária e a certeza de que vamos conseguir realizar todos os nossos desejos", disse o político.
O ato central das comemorações dos 40 anos da independência de Cabo Verde aconteceu no Salão Nobre Abílio Duarte (já falecido), primeiro presidente do parlamento cabo-verdiano e que, a 05 de julho de 1975, leu, no Estádio da Várzea, o texto que proclamou a independência do país, na altura na qualidade de presidente da Assembleia Constituinte.
Numa sala cheia de personalidades locais e internacionais de todas as áreas, Portugal esteve representado pelo primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, convidado pelo seu homólogo, José Maria Neves.