O primeiro-ministro de Cabo Verde afirmou, esta sexta-feira,e que não haverá qualquer desculpa se foram cometidas atrocidades contra a classe dirigente na Guiné -Bissau, condenando "veementemente" a tentativa de golpe militar de quinta-feira à noite.
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"A situação ainda é confusa, não temos ainda todos os detalhes, os dados disponíveis não confirmam o paradeiro do primeiro-ministro e candidato à Presidência (Carlos Gomes Júnior), não há ainda dados sobre algumas outras personalidades da Guiné -Bissau e sobre o comando das operações", afirmou José Maria Neves.
Citado pela Rádio de Cabo Verde, o chefe do Executivo cabo-verdiano defendeu que "absolutamente nada justifica o levantamento militar" num país democrático, exigiu aos militares que "devolvam imediatamente" o poder às autoridades legitimamente constituídas e a criação de condições para a realização "em plena liberdade" da segunda volta das eleições presidenciais.
"Esperamos que a vida de todos os dirigentes da Guiné -Bissau seja preservada e não haverá desculpa em relação a qualquer atrocidade ou atropelo que os militares venham a cometer numa sociedade democrática e em pleno processo eleitoral", frisou.
"Não sei se a questão é apenas dos militares. Há outros jogos políticos que ainda não estão claros e que devem ser plenamente esclarecidos", acrescentou.
José Maria Neves salientou que a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) "não pode intervir em nenhum país", mas que está a tomar as "medidas necessárias", que não especificou.
Segundo o primeiro-ministro de Cabo Verde, a presidência angolana da CPLP "desempenhou muito bem o seu papel", desenvolvendo uma atuação "muito ativa", que permitiu "construir soluções" e apresentar propostas para a resolução da crise na Guiné -Bissau.
"(A Presidência angolana da CPLP) deu uma forte contribuição para a reforma das forças armadas. Aqui, a CPLP desempenhou muito bem o seu papel e a presidência angolana está de parabéns pelo apoio à reforma das forças armadas e da realização da primeira volta das eleições", concluiu.
Na quinta-feira à noite, um grupo de militares guineenses atacou a residência do primeiro-ministro e candidato presidencial, Carlos Gomes Júnior, e ocupou vários pontos estratégicos da capital da Guiné -Bissau.
A ação foi justificada hoje, em comunicado, por um auto-denominado Comando Militar, cuja composição se desconhece, como visando defender as Forças Armadas de uma alegada agressão de militares angolanos, que teria sido autorizada pelos chefes do Estado interino e do Governo.
A mulher de Carlos Gomes Júnior disse hoje que ele foi levado por militares na noite do ataque e encontra-se em parte incerta, bem como o Presidente interino, Raimundo Pereira.
Os acontecimentos militares na Guiné -Bissau, que antecederam o início da campanha eleitoral das presidenciais de 29 de abril, mereceram a condenação da União Africana, da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental e de vários países, incluindo Portugal, que exortou os autores do "golpe militar" a libertar os políticos detidos.