A Amnistia Internacional (AI) acusou o Reino Unido de desprezar o direito ao protesto pacífico após deter 900 pessoas que se manifestaram sábado em apoio ao grupo Palestine Action, ilegalizado pelo governo no âmbito da lei antiterrorista britânica.
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É um "número impressionante de detidos", o que "marca um novo mínimo no direito de protesto" em território britânico, considera Kerry Moscogiuri, diretora de Campanhas e Comunicações da organização não-governamental.
"É completamente ridículo que a polícia persiga e detenha pessoas por se sentarem e segurarem silenciosamente um cartaz. Enviámos observadores aos protestos e podemos afirmar que as palavras da polícia, que garante que [os manifestantes] se tornaram violentos, são uma deturpação", lamentou.
Moscogiuri defendeu que a marcha foi "totalmente pacífica", apesar de alguns manifestantes terem insultado a polícia. "Um pequeno número deles tentou impedir que levassem os detidos, mas não parecia ser uma ação coordenada", assegurou.
"Em várias ocasiões, os agentes da polícia mostraram-se agressivos com os apoiantes do protesto. Isto incluiu empurrar violentamente as pessoas e abrir espaço com o recurso a bastões, enquanto os manifestantes eram detidos e levados para carrinhas da polícia", refere o texto da Amnistia Internacional, com sede em Londres.
Foto: JUSTIN TALLIS / AFP
A organização recordou que o protesto pacífico é um "direito fundamental" e afirmou que as cenas de sábado constituem uma "demonstração impactante de como as leis antiterroristas estão a ser utilizadas no Reino Unido para reprimir a liberdade de expressão".
Estima-se que cerca de 890 pessoas tenham sido detidas na sequência dos protestos em frente à sede do Parlamento britânico em apoio à Palestine Action.
As forças de segurança alegam que a maioria das detenções, 857, foi realizada ao abrigo da Secção 13 da Lei Antiterrorista aprovada em 2000. As restantes estariam relacionadas com outros crimes, como alegadas agressões a agentes da polícia.
Os detidos que puderam ser identificados foram libertados sob fiança para comparecerem quando forem intimados.
No entanto, aqueles que se recusaram a identificar-se, bem como os que já estavam em liberdade sob fiança no momento da prisão foram transferidos para as celas da Polícia Metropolitana - estima-se que sejam 519 no total.
A polícia já deteve mais de 500 pessoas noutro protesto em agosto, no qual, à semelhança do que aconteceu no sábado, os manifestantes empunhavam cartazes de apoio ao grupo, que foi proibido em julho após vandalizar dois aviões numa base militar britânica e bloquear a entrada de uma empresa fornecedora de armas para Israel.
Durante o protesto de sábado, onde se ouviram palavras de ordem como "oponho-me ao genocídio, apoio a Palestine Action", ocorreram episódios violentos, nomeadamente em ruas adjacentes enquanto na concentração principal, na praça do Parlamento, os protestos foram pacíficos.
Na véspera, a polícia alertara que expressar apoio a uma organização proibida é considerado crime face à Lei do Terrorismo e que os infratores seriam detidos.