O primeiro julgamento dos casos relacionados com mortes de pessoas infetadas com covid-19 num "resort" de esqui em Ischgl, na Áustria, começou esta sexta-feira num tribunal de Viena, envolvendo mais de seis mil pessoas de 45 países.
Corpo do artigo
A audiência começou às 10 horas locais (9 horas em Portugal continental), iniciando uma maratona judicial de casos que ainda estão a ser apresentados à justiça. Até ao momento, cerca de 15 ações judiciais já foram apresentadas à justiça austríaca.
Mais de seis mil pessoas de 45 países dizem que eles ou os seus familiares foram infetados dentro ou na região do "resort" de luxo de Ischgl devido à negligência e gestão caótica da crise sanitária adotadas pelas autoridades em março de 2020.
Esta sexta-feira, a juíza está a analisar a denúncia apresentada pela austríaca Sieglinde Schopf, que não estava presente no tribunal, e pelo seu filho Ulrich, segundo um jornalista da agência de notícias France Press (AFP).
Há um ano e meio, o marido de Sieglinde Schopf - Hannes, de 72 anos - morreu com covid-19 depois de ter estado naquele "resort" de esqui localizado na região do Tirol.
O advogado de Sieglinde Schopf, Alexander Klauser, disse acreditar que a lista de violações às regras de saúde da estação de esqui é longa.
De acordo com um relatório de especialistas independentes, um primeiro alerta sobre a situação foi emitido em 5 de março pela Islândia, que estava alarmada com o retorno de turistas contaminados em Ischgl, mas foi ignorado pelas autoridades e responsáveis da estação de esqui.
Os esquiadores continuaram a amontoar-se nas cabines do teleférico, enquanto as festas noturnas se mantinham em pleno na região.
"No dia 8 de março ficou claro que os funcionários de Ischgl haviam contraído o vírus, mas, mais uma vez, a reação foi muito fraca, muito lenta e ocorreu tarde demais", denunciou o advogado, referindo que o vírus já se tinha espalhado pela fronteira com a Itália.
O advogado acredita que tudo foi feito para reduzir a importância deste "cluster" de contágio e, assim, permitir que a temporada de esqui continuasse como se nada tivesse acontecido.
Poucos dias depois, o primeiro-ministro austríaco, Sebastian Kurz, decretou um confinamento local e pediu a milhares de turistas que desocupassem a região em poucas horas, situação que as vítimas e os seus familiares disseram ter precipitado o desastre.
Sieglinde Schopf está convencida de que o seu marido foi exposto ao vírus durante a retirada das pessoas da região e pede 100 mil euros de indemnização ao Estado.
"O que as partes civis querem é que a República da Áustria admita a sua responsabilidade - até agora não tivemos nenhum sinal disso", explicou Klauser. Essa recusa "prolonga" o sofrimento dos parentes, insistiu o advogado.
Entre os milhares de pessoas afetadas, cerca de 5% sofreram com sintomas prolongados da covid-19, como dores de cabeça, distúrbios do sono e falta de ar, e morreram 32 pessoas, segundo a associação de consumidores VSV, que reúne os processos.
Ao manifestar o seu pesar pelas vítimas, as autoridades negam qualquer omissão no cumprimento das regras e alegam que agiram com o conhecimento de que dispunham nesse momento.
Neste escândalo, cinco pessoas, incluindo Werner Kurz, o autarca de Ischgl, são objeto de uma investigação por "administração intencional ou negligente de uma doença transmissível que prejudicou a integridade física ou mental de terceiros".