China estende exercícios militares no mar Amarelo após escalada de tensão com Japão

Pequim "reiterou os seus fortes protestos ao lado japonês em relação às declarações erradas sobre a China feitas pela primeira-ministra japonesa, Sanae Takaichi", disse a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Mao Ning
Foto: Jessica Lee/EPA
A China estendeu as manobras com fogo real no mar Amarelo por mais oito dias, num contexto de tensões com o Japão, após Tóquio avisar que um ataque a Taiwan poderia representar uma crise securitária para o país.
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De acordo com um comunicado divulgado na segunda-feira à noite pela Administração de Segurança Marítima da China (MSA, na sigla em inglês), os exercícios ocorrem entre esta terça-feira e 25 de novembro, diariamente, das 8 horas às 18 horas (0 horas e 10 horas em Portugal continental), numa área do sul do mar Amarelo, onde a navegação está totalmente proibida. O comunicado não especifica os recursos militares envolvidos nem o objetivo específico do exercício.
O novo alerta sucede a outro emitido no sábado, referente a exercícios militares na região central do mar Amarelo, que começaram na segunda-feira.
Comentário sobre Taiwan
O prolongamento destes exercícios coincide com um ressurgimento da retórica oficial chinesa contra Tóquio, após declarações da primeira-ministra japonesa, Sanae Takaichi, que sugeriu que um ataque chinês a Taiwan poderia colocar o Japão numa "situação de crise" e justificar uma intervenção das forças armadas nipónicas no estreito.
Masaaki Kanai, um alto funcionário do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Japão para a região da Ásia-Pacífico, encontrou-se com o diretor-geral do Departamento de Assuntos Asiáticos do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Liu Jinsong, na segunda-feira.
"Durante as consultas, o lado chinês reiterou os seus fortes protestos ao lado japonês em relação às declarações erradas sobre a China feitas pela primeira-ministra japonesa, Sanae Takaichi", disse a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Mao Ning, durante uma conferência de imprensa regular.
Tóquio insiste que a posição em relação a Taiwan não mudou e que qualquer disputa deve ser resolvida pacificamente.
Conselhos aos viajantes
A China endureceu as mensagens transmitidas, e o Ministério dos Negócios Estrangeiros do país emitiu um alerta, na sexta-feira, no qual desaconselha as viagens para o Japão devido à deterioração do ambiente de segurança. Um aviso replicado, no domingo, pelas autoridades das duas regiões administrativas especiais chinesas de Macau e Hong Kong.
No mesmo sentido, na segunda-feira, a embaixada do Japão em Pequim instou os japoneses que vivem ou se encontram atualmente na China a terem cautela. "Quando viajar, preste especial atenção ao que o rodeia, principalmente à possível presença de indivíduos suspeitos. Procure viajar em grupo sempre que possível", alertou a embaixada. "Evitar locais lotados ou aqueles que provavelmente são frequentados por japoneses, tanto quanto possível", acrescentou, numa nota.
O porta-voz do Governo japonês, Minoru Kihara, afirmou hoje que as recomendações foram emitidas "com base numa avaliação abrangente da situação política, incluindo a situação de segurança no país ou região em questão, bem como as condições sociais".
Em resposta, Pequim garantiu que "sempre protegeu e continuará a proteger a segurança dos cidadãos estrangeiros na China, em conformidade com a lei".
Taiwan é uma ilha com Governo próprio desde 1949, que a China considera uma "província rebelde" e parte inalienável de território chinês, tendo ameaçado várias vezes recorrer à força para alcançar a reunificação.
Apesar de ter reconhecido a República Popular da China como o único Governo legítimo em 1972, o Japão mantém relações não oficiais com Taipé, e já o antigo primeiro-ministro Shinzo Abe (1954-2022) defendeu publicamente que qualquer invasão da ilha justificaria uma resposta militar japonesa, no quadro do acordo de segurança com os Estados Unidos.
