Mandam as regras de um certo jornalismo higiénico que não se deve começar uma reportagem num país estrangeiro com um taxista. Mas o homem que me trouxe do aeroporto ao centro de Atenas merece que se abra uma exceção. Christos não é de grandes discursos, mas fez um retrato simples e assertivo do seu país.
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Originário de Calamata, no Peloponeso, destaca dois, apenas dois problemas políticos nestes tempos conturbados. O primeiro é o da imigração, sobretudo de albaneses. Pelas suas ligações ao crime organizado. Não se confunda, no entanto, Christos com um radical da extrema-direita. Não gosta do Aurora Dourada, classifica-os como violentos, mas nota que o caldo atual favorece o crescimento da xenofobia.
O segundo problema é o do desemprego e do subemprego, precário e mal pago, para os jovens do seu país. Que não têm outra saída que não seja a fuga para o estrangeiro. A diferença é que agora, ao contrário dos anos 50 e 60 do século passado, são os que têm qualificações que vão embora. E foi ao ouvi-lo falar assim que percebi que Christos poderia muito bem chamar-se José e ser taxista no Porto.
Continuou a descrever o seu país e, apesar de elogiar as virtudes turísticas, e em particular do seu Peloponeso natal, lembra que isso só não chega para viabilizar um país. "Não temos mais nada para vender, não temos grandes indústrias que produzam coisas para vender ao Mundo". Outra vez Christos a soar-me a José.
Como a maior parte dos gregos (e dos portugueses), Christos já tem pouca paciência para políticos. E explica que os seus compatriotas, para além de estarem zangados, se cansaram da alternância Nova Democracia/PASOK. Quem pagou a fava foram os socialistas. Foi abandonado pelos mais jovens, que se voltam agora para o Syriza e outros pequenos partidos.
Christos, como qualquer José, é conservador, receia a mudança, apesar de não apreciar os méritos do primeiro-ministro Samaras. Sendo taxista de aeroporto usa apropriadamente a metáfora do avião novo que é entregue a pilotos muito jovens e inexperientes, para explicar o seu receio quanto à chegada do Syriza ao poder. Mas percebe-se que pondera também ele abandonar os partidos tradicionais.
Sem medo do regresso ao dracma. Reconhece que na Europa a moeda grega "não valia nada". Mas admite que as coisas poderiam melhor a nível interno. "Todos os gregos gostam do dracma, é só perguntar". Uma pontada de exagero para a despedida. A única que lhe ouvi. Christos podia chamar-se José.