Terceira noite de violência resultou em 875 detenções em todo o país. O presidente Emmanuel Macron anunciou o cancelamento de grandes eventos e ordenou a monitorização das redes sociais.
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Desde a última terça-feira que o ódio e a raiva espoletados pela morte de Nahel M. têm transformado as ruas francesas em autênticos campos de batalha, mas na madrugada desta sexta-feira, a terceira noite de violência, o clima de insurreição agravou-se e as autoridades não fazem qualquer previsão sobre o regresso da normalidade.
Foram detidas 875 pessoas e 249 polícias ficaram feridos, indica o jornal “Le Monde”, que informa ainda sobre a ocorrência de 3880 incêndios em locais públicos, dando conta do registo de cerca de dois mil veículos, o que inclui diversos autocarros, totalmente destruídos pelas chamas.
Perante o cenário de caos, o presidente Emmanuel Macron interrompeu a viagem a Bruxelas para marcar presença numa reunião interministerial, na qual criticou a “instrumentalização inaceitável da morte de um adolescente”. O chefe de Estado apelou à responsabilidade social dos pais, pedindo que exerçam autoridade e mantenham os filhos em casa enquanto a situação não acalma.
A chamada de atenção do líder gaulês surge numa altura em que as autoridades já conseguiram traçar o perfil dos desordeiros: a idade média dos detidos é de 17 anos, sendo que o mais novo a ser intercetado pela Polícia tem apenas 13 anos. “Um terço [dos presos] são jovens, às vezes muito jovens ”, advertiu o líder do Eliseu. ´
Redes sociais alimentam ódio
Os vídeos com demonstrações de vandalismo têm sido amplamente difundidos nas redes sociais, sobretudo no Tik Tok, Snapchat e Twitter, o que, segundo Macron, está a alimentar a insurgência.
O presidente, que responsabilizou grupos organizados pelo ambiente de rebelião, pois convidam os jovens a viverem “uma espécie de videojogo” na vida real, solicitou às plataformas para que retirem “os conteúdos mais sensíveis”, pedindo-lhes ainda que colaborem na identificação de quem usa estes recursos “para apelar à desordem ou exacerbar a violência”.
Foi ainda anunciado o reforço de “recursos adicionais” para as ruas, sendo que os agentes destacados poderão contar com o apoio de veículos blindados para dar resposta ao contexto de crise.
Depois de ao longo do dia de ontem se terem registado manifestações violentas em várias cidades, algumas autarquias implementaram a suspensão da circulação de autocarros durante a noite e nas cidades de Marselha, Lyon, Bordéus, Estrasburgo, Montpellier, Toulouse, Grenoble e Annecy as autoridades proibiram os protestos. O Governo também cancelou grandes eventos, de modo a garantir a segurança dos cidadãos, como foi o caso do festival Fnac Live Paris.
Na sequência do assassinato a tiro do jovem com origens no Magrebe às mãos da polícia francesa, a ONU apelou à França para que resolva os problemas de racismo e de discriminação racial intrínsecos no seio das forças de segurança.
“Chegou o momento de o país abordar seriamente os problemas profundamente enraizados”, referiu Ravina Shamdasani, porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos.
No entanto, as declarações foram rebatidas pelo Governo. “Qualquer acusação de racismo sistémico ou discriminação pela aplicação da lei em França é completamente infundada”, respondeu, em comunicado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Apesar de o caso ter levantado a questão sobre a proporcionalidade da resposta policial, uma sondagem realizada pelo Ifop e publicada pelo jornal “Le Figaro” mostra que 57% dos cidadãos de França continuam a confiar na atuação da Polícia.