Comunidade árabe e muçulmana nos Estados Unidos mais próxima do “terceiro partido”, de Jill Stein, devido a desilusão sentida com a guerra em Gaza.
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Rima Mohammad é professora universitária na Universidade do Michigan, o estado com a maior concentração de árabes e muçulmanos nos EUA. Americana e palestiniana, Rima sempre votou no Partido Democrata, mas a guerra em Gaza tudo mudou no último ano. Deixou de se sentir segura, com os palestinianos a serem “desumanizados”. “As pessoas estão a perder os empregos, a serem expulsas dos comícios por serem identificadas como muçulmanas. Recentemente, um estudante foi chamado de terrorista por um conselheiro da escola”, relata em declarações ao JN/TSF.
“O racismo e a discriminação contra a comunidade árabe e muçulmana é maior [nesta altura] do que no pós-11 de Setembro”, garante.
Voto de protesto
Rima foi uma das duas delegadas que o movimento Uncommitted (Descomprometidos) conseguiu levar à convenção democrata, no passado mês de agosto, para defender um cessar fogo em Gaza e o embargo de armas a Israel. No entanto, não obteve qualquer compromisso por parte de Kamala Harris e, por isso, a maioria da comunidade árabe e muçulmana, no Michigan, não tenciona votar nas eleições presidenciais, indica a activista palestiniana. Em alternativa, muitos vão votar “por um terceiro partido. Não porque acreditem que Jill Stein pode ganhar, mas como um voto de protesto”.
A terceira candidata, como Jill Stein é apelidada, concorre pela terceira vez à Casa Branca e tem o apoio do Green Party (Partido Verde). O presidente do comité eleitoral dos Verdes no estado do Wisconsin, Pete Karas, garante que não estão a “roubar votos” aos democratas, nem querem ser os “desmancha-prazeres” nesta eleição. Simplesmente, “as pessoas que votam em nós estão cansadas do sistema de dois partidos” e o verdadeiro problema “é que eles [os democratas] arranjam candidatos horríveis, fazem campanhas horríveis, são horríveis nos problemas e quando perdem, culpam o Partido Verde ou os russos ou seja quem for”, critica Pete Karas.
A questão é que os “americanos estão presos ao sistema de dois partidos”, explica o candidato dos Verdes ao Congresso, no Wisconsin, Chester Todd, que elege a “libertação da Palestina” como uma das bandeiras na corrida eleitoral. A guerra em Gaza pode, assim, render votos aos candidatos fora do sistema, apesar de os americanos serem como “um elefante atado a um poste”, na analogia de Chester Todd.
O elefante não se liberta das amarras, porque “foi criado desde bebé” nesta condição. Mas no circo da política, o presidente do comité eleitoral dos Verdes no Wisconsin sonha com um bom resultado para o partido. “Conseguir 5% dos votos, a nível nacional” para Jill Stein, permitiria à candidata receber “apoios públicos daqui a quatro anos”, quando houver novas eleições presidenciais. É essa a estratégia do terceiro partido: mudanças estruturais projectadas a longo prazo.