Como é o acordo de trégua entre o Líbano e Israel e o que esperar da guerra em Gaza
O acordo de cessar-fogo entre o Líbano e Israel entrou em vigor esta quarta-feira às 4 horas locais (2 horas em Portugal continental). Saiba o que foi negociado, as consequências e o que esperar do conflito na Faixa de Gaza.
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No que consiste o cessar-fogo no Líbano?
O acordo de cessar-fogo mediado pelos Estados Unidos e França visa o cumprimento da Resolução 1701 da ONU, de 2006. A medida consiste na retirada das tropas israelitas do Sul do Líbano - na trégua anunciada ontem, isso ocorreria em até 60 dias. O Exército Libanês deve enviar cerca de cinco mil soldados para a região, trabalhando em conjunto com a Força Interina das Nações Unidas no Líbano (UNIFIL).
Combatentes do organização islamita Hezbollah devem-se retirar da área do país ao Sul do rio Litani. Não é claro se as Forças Armadas libanesas entrariam em confronto com os militantes do grupo xiita, mas líderes ocidentais acreditam que o Hezbollah está enfraquecido devido aos conflitos do último ano, intensificados a partir de setembro.
A implementação do acordo será supervisionada por Washington e Paris. O presidente norte-americano Joe Biden assegurou que "a infraestrutura terrorista do Hezbollah no Sul do Líbano não poderá ser reconstruída".
Porque Israel aceitou a trégua?
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, no discurso televisivo de terça-feira, sublinhou três razões para Telavive aceitar o acordo: "focarmo-nos na frente iraniana", "refrescar as nossas forças e equipamentos militares" e "separar a frente da guerra com o Hamas", "ajudando-nos na tarefa de trazer de volta os reféns".
O chefe de Governo salientou, no entanto, que Israel manteria "a liberdade total de ação militar" no Líbano "com o pleno entendimento dos Estados Unidos". "Se o Hezbollah violar o acordo e tentar armar-se, atacaremos. Se tentar reconstruir a infraestrutura terrorista perto da fronteira, atacaremos. Se lançar um rocket, se escavar um túnel, se trouxer um camião com rockets, atacaremos", ameaçou Netanyahu.
A exigência do Executivo israelita pelo direito de contra-atacar está fora do acordo por causa da rejeição do Líbano, de acordo com a BBC. Nesse caso, os EUA publicariam uma carta a apoiar o direito de Telavive de responder, segundo relatos na Imprensa internacional.
Os libaneses poderão regressar às suas casas?
O entusiasmo no Líbano pode ser visto esta quarta-feira nas ruas. Carros passavam com a bandeira nacional e outros buzinavam. As estradas enchiam-se de veículos com pessoas prontas a regressar para as suas casas. Em Tiro, alvo de vários bombardeamentos israelitas, viaturas levavam colchões, malas e móveis. Cerca de 1,2 milhões de libaneses deixaram as residências por conta das operações militares de Israel.
"Os israelitas não se retiraram totalmente", disse Hussam Arrout, ouvido pela agência Reuters. "Por isso, decidimos esperar até que o Exército anuncie que podemos ir. Depois ligamos os carros e vamos à aldeia", completou o pai de quatro filhos residente em Mays al-Jabal, no Sul do país, que estava temporariamente deslocado para os subúrbios de Beirute.
Tanto o Exército libanês quanto as Forças de Defesa de Israel (FDI) alertaram para que os residentes das áreas fronteiriças regressaram com cautela. Há ainda o risco de algumas das aldeias abandonadas temporariamente tenham sido totalmente destruídas.
E como fica o conflito na Faixa de Gaza?
O acordo entre Israel e o Líbano ocorre apesar de o Hezbollah ter insistido que continuaria a atacar até que Israel cessasse os combates na Faixa de Gaza. Mais de 44 mil pessoas morreram no enclave devido às operações das FDI. O Hamas, que controla o território palestiniano, espera uma trégua também.
"O Hamas aprecia o direito do Líbano e do Hezbollah de chegarem a um acordo que proteja o povo do Líbano e esperamos que este acordo abra caminho para chegar a um acordo que ponha fim à guerra de genocídio contra o nosso povo em Gaza", afirmou Sami Abu Zuhri, oficial do grupo islamita, citado pela Reuters. "O Hamas demonstrou grande flexibilidade para chegar a um acordo e continua empenhado nessa posição e interessado em chegar a um acordo que ponha fim à guerra em Gaza. O problema esteve sempre com [o primeiro-ministro israelita Benjamin] Netanyahu, que sempre escapou a chegar a um acordo", acrescentou.
Com as declarações do primeiro-ministro israelita a frisar a manutenção do conflito em Gaza até pelo menos o regresso dos reféns, uma trégua parece ainda distante. Além disso, as negociações que ocorriam em Doha foram paralisadas há duas semanas, após o Catar retirar-se da mediação. Por fim, Netanyahu tem no horizonte um forte aliado que está a voltar para a Casa Branca: Donald Trump. A próxima Administração norte-americana deverá não só manter o apoio a Telavive, mas reforçar ainda mais.