A atribuição do Prémio Nobel da Paz a Liu Xiaobo é uma mensagem de apoio a todos os que lutam pela liberdade e direitos humanos, defendem várias vozes internacionais.
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"A decisão da Comité do Prémio Nobel da Paz é uma forte mensagem de apoio a todos os que, no mundo, por vezes com grande sacrifício pessoal, lutam pela liberdade e pelos direitos humanos", disse José Manuel Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia.
"Estes valores estão no âmago da União Europeia", lembrou ainda, considerando que a decisão do Comité Nobel "destacou a sua importância em todo o mundo".
"Trata-se de um excelente passo sob o ponto de vista dos direitos humanos e um sinal de que a China não poderá continuar a fazer ouvidos moucos aos apelos que são feitos sobre as pessoas que mantém presas", declarou Teresa Nogueira, responsável pelo Grupo da China da Aministia Internacional (AI) em Portugal. É "uma chamada de atenção" para a defesa dos direitos humanos, defende.
Este galardão, é "uma mensagem de esperança para o vencedor, condenado a 11 anos de prisão, mas também para os dissidentes na prisão em todo o mundo e para o povo chinês", afirmou a organização Repórteres sem Fronteiras (RSF), em comunicado.
Os activistas pela liberdade de imprensa acrescentam que as "ameaças de retaliação por parte das autoridades chinesas não têm sido suficientes para assustar o Comité do Prémio Nobel e as autoridades norueguesas".
"É uma lição para todos os governos democráticos que muitas vezes cedem à pressão de Pequim", salienta a RSF.
Em declarações à Agência Lusa, Ximenes Belo, laureado com o Nobel da Paz em 1996, disse que o galardão "está bem atribuído", por se estar perante alguém que "luta pela democratização na China e, sobretudo, pelos respeito dos direitos fundamentais da pessoa humana".
"Esperemos que o prémio contribua para consciencializar o Partido Comunista chinês de que é preciso democratizar o país e os líderes chineses respeitarem os direitos humanos", sublinhou.
Antigo professor universitário e crítico literário, Liu Xiaobo, de 54 anos, cumpre uma pena de prisão de 11 anos, sob a acusação de "subversão do poder do Estado".
Liu Xiaobo honra "todos os que na China lutam diariamente para o governo ser mais responsável", segundo Reed Brody, director de comunicações da organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch (HRW).
"Liu Xiaobo é alguém que simboliza os ideais do prémio Nobel", acrescentou em declarações à Lusa. "É alguém que fala a verdade para o poder e cuja advocacia corajosa personifica o melhor da China".
A atribuição do prémio "honra todos na China que lutam diariamente para o governo ser mais responsável" e também "traz à luz uma realidade que muitas pessoas não querem reconhecer: que o governo continua a perseguir jornalistas independentes, advogados e activistas dos direitos humanos". A escolha de Liu Xiaobo "vai enfurecer o governo chinês mas era um prémio necessário", concluiu.
"O governo chinês procurou exercer pressão e influenciar a decisão do Comité Nobel Norueguês para não atribuir o prémio a Liu Xiaobo, mas ao fazê-lo o comité mostrou que não se importa com a arrogância de Pequim", referiu o vice-presidente da Independent Chinese Pen Center, Patrick Pun, que tem Liu Xiaobo como presidente honorário.
Patrick Pun defendeu, em declarações à Lusa, que o "prémio envia uma mensagem clara ao governo chinês de que agiu mal e que a comunidade internacional considera que Liu Xiaobo foi preso injustamente, já que o seu combate pela defesa dos direitos humanos é legítimo e pacífico".
"É o reconhecimento do trabalho de Liu Xiaobo e da sua luta pela democracia e direitos humanos na China ao longo de mais de 20 anos", acrescentou, realçando a esperança de que o dissidente "seja libertado o mais depressa possível".
Numa nota divulgada em Bruxelas, o presidente do Parlamento Europeu, Jerzy Buze, afirma que Liu Xiaobo "lutou pela liberdade de expressão recorrendo a meios pacíficos", defendendo "valores e liberdades fundamentais que a União Europeia e o Parlamento Europeu vêem como pedras angulares da sociedade".
Lembrando que durante a sua visita oficial à China, em Maio, teve oportunidade de se encontrar com a mulher de Liu Xiaobo e de lhe expressar a sua solidariedade, o Jerzy Buze insta as autoridades chinesas "a libertarem-no imediatamente e de forma incondicional".
"A China e a Europa estão num processo de construção de uma ponte, mas um pilar essencial dessa ponte deve ser o cumprimento da lei e o respeito pelos direitos civis e das minorias", frisou.
O Dalai-lama, líder espiritual dos budistas tibetanos, disse, em comunicado, que o prémio é um reconhecimento da comunidade internacional aos que cada vez mais pedem reformas na China e exortou as autoridades chinesas a libertarem os presos por terem exercido a sua liberdade de expressão.
"A atribuição do prémio Nobel da Paz, edição 2010, a Liu Xiaobo traduz o reconhecimento do significado da luta pelos direitos humanos assim como da coragem e dos sacrifícios pessoais que este combate envolve", refere Jorge Sampaio, alto representante da ONU para a Aliança das Civilizações.
Numa nota enviada à Agência Lusa, Jorge Sampaio salienta que o dissidente "tem-se batido por dar voz à liberdade de opinião e de expressão no seu país e por abrir novas perspectivas para o debate sobre o caminho da democracia na China".
"A questão da evolução política da China é hoje seguida com a maior atenção e interesse em todo o mundo, na esperança de que constitua um factor determinante da paz no mundo", concluiu.