Faixa de Gaza ultrapassa 10 mil mortos, incluindo mais de quatro mil menores. Falta de consenso em pausas humanitárias atrasa libertação de reféns de grupo islamita.
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Há um mês, ataques promovidos pelo Hamas no Sul de Israel foram a faísca num barril de pólvora de décadas de discórdia. Como resposta pela investida da organização islamita – que resultou em cerca de 1400 mortes e feridos em Israel, segundo números de Telavive –, as Forças de Defesa de Israel (FDI) começaram a bombardear e, posteriormente, a realizar incursões terrestres na Faixa de Gaza – provocando mais de 10 mil mortes em 31 dias.
Na véspera da efeméride, o Ministério da Saúde de Gaza – controlado pelo Hamas – reportou que 10.022 pessoas morreram no enclave desde a escalada do conflito, a 7 de outubro. Destas, 4104 eram crianças.
“O pesadelo em Gaza é mais do que uma crise humanitária. É uma crise de humanidade”, afirmou o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres. “Operações terrestres pelas Forças de Defesa de Israel e o bombardeamento contínuo estão a atingir civis, hospitais, campos de refugiados, mesquitas, igrejas e instalações da ONU – incluindo abrigos”, denunciou o português.
Pelo menos 88 funcionários da Agência das Nações Unidas para Refugiados da Palestina (UNRWA) morreram, sendo este o conflito com mais vítimas fatais da organização. Pelo menos 47 edifícios da ONU foram danificados.
“Civis como escudos”
“Ao mesmo tempo, o Hamas e outros militantes usam civis como escudos humanos e continuam a lançar rockets indiscriminadamente contra Israel”, disse Guterres, que voltou a condenar a ação do grupo palestiniano e pediu a libertação “imediata, incondicional e segura” dos reféns. Mais de 240 sequestrados continuam em Gaza, tendo o Hamas soltado quatro mulheres até agora.
“Cemitério de crianças”
“Gaza está a tornar-se um cemitério de crianças”, lamentou o chefe das Nações Unidas. A média do último mês indica que, por dia, 132 menores foram vítimas mortais. Guterres apelou ainda a um “cessar-fogo humanitário” para esta “catástrofe que se desenrola”.
A ideia de um cessar-fogo é rejeitada por Israel e pelos Estados Unidos, com Washington a pedir “pausas humanitárias”. A esperança dos EUA é que essas suspensões temporárias no conflito permitam a entrada de ajuda humanitária em Gaza e a libertação dos reféns do Hamas – o grupo, no entanto, exige que os israelitas parem de vez com os ataques.
O alcance de pausas humanitárias foi o que motivou o secretário de Estado norte-americano durante o périplo dos últimos dias no Médio Oriente. Antony Blinken encerrou esta segunda-feira a viagem em Ancara, onde encontrou o ministro dos Negócios Estrangeiros turco, Hakan Fidan. A agência Associated Press, todavia, considera que a missão do chefe da diplomacia de Washington resultou, no máximo, num “apoio morno”.
O presidente dos Estados Unidos Joe Biden conversou sobre “a possibilidade de pausas táticas”, num telefonema com o primeiro-ministro israelita. No mesmo dia, Benjamin Netanyahu classificou a guerra como uma “batalha da civilização contra a barbárie”.
Israel afirma que cercou completamente a cidade de Gaza, no Norte, com os média israelitas a esperar uma entrada com força total nas próximas 48 horas. Já em Rafah, no Sul, as retiradas foram retomadas e 80 estrangeiros ou pessoas com dupla nacionalidade e 17 palestinianos feridos saíram segunda-feira de Gaza para o Egito.
Crianças libanesas
Um bombardeamento israelita no Sul do Líbano, na noite de domingo, matou uma mulher e as suas três netas, de 10, 12 e 14 anos. O grupo Hezbollah, que afirmou não tolerar mortes de civis, respondeu com um ataque de rockets no Norte de Israel.
Polícia em Jerusalém
Uma polícia israelita de 20 anos foi morta esta segunda-feira após ser esfaqueada em Jerusalém Oriental, por um adolescente palestiniano de 16 anos. Outro agente sofreu ferimentos moderados, de acordo com o jornal israelita “Haaretz”.
Cinco na Cisjordânia
O Exército israelita matou esta segunda-feira quatro alegados militantes do Hamas em Tulkarm, na Cisjordânia. O Ministério da Saúde palestiniano informou ainda a morte de um jovem de 18 anos em Belém.