A comissária do Conselho da Europa para os Direitos Humanos, Dunja Mijatovic, condenou o "uso excessivo da força" pela Polícia francesa contra manifestantes que, em Paris e noutras cidades, se juntaram na nova mobilização nacional contra as alterações à lei das pensões.
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Segundo o Governo francês, os incidentes nas manifestações, que reuniram 3,5 milhões de pessoas, nas contas dos sindicatos, e 1 080 mil nas do Ministério do Interior, 441 polícias ficaram feridos. As autoridades não adiantam o número de manifestantes atingidos, limitando-se a apontar os detidos: 457.
"Nos incidentes, alguns visaram as forças da ordem", reconhece Dunja Mijatovic em comunicado, mas "os atos de violência esporádicos de certos manifestantes ou outros atos repreensíveis cometidos por outras pessoas no decurso de uma manifestação não servem para justificar o uso excessivo da força por agentes do Estado", salienta.
Além de inúmeras imagens de violência da Polícia, mesmo em circunstancias em que os manifestantes eram pacíficos, a imprensa francesa reproduziu verbalizações desses abusos por elementos das unidades especiais das Companhias Republicanas de Segurança (CRS). "Juro-te que te parto as pernas", exemplifica o diário "Le Monde".
"Caminho democrático"
A responsável nota que os excessos praticados por alguns elementos - "vândalos", alguns dos quais "pessoas de boas famílias", nas palavras do ministro do Interior, Gerald Darmanin, chamou - "não são suficientes para privar manifestantes pacíficos do direito à liberdade de reunião".
"A violência não tem lugar em democracia", declarou o presidente da República, Emmanuel Macron, contornando a pergunta de jornalistas sobre a disposição para discutir com os sindicatos a revisão da posição sobre a polémica lei de revisão das pensões.
"Há um caminho democrático que deve prosseguir", limitou-se a dizer, numa conferência de imprensa em Bruxelas, depois de ter a sua disponibilidade para discutir "com a intersindical" várias questões do trabalho.
Macron anunciou por outro lado o adiamento da visita do rei Carlos III de Inglaterra, que deveria começar neste domingo, invocando razões de "bom senso e amizade" com o soberano. "Não estaríamos a encarar as coisas de forma séria" ao "realizar uma visita de Estado no meio de protestos", justificou.
No rescaldo das manifestações e da violência (em Bordéus há cinco indiciados pelo incêndio no pórtico dos Paços do Concelho), as organizações mantêm a sua atenção ao movimento grevista, que prossegue nalguns setores vitais mas começa a ceder noutros.
Um deles é a recolha e eliminação de lixo, nomeadamente na região parisiense, onde duas das três centrais de incineração de resíduos voltaram a funcionar, ao mesmo tempo que setores como a refinação de petróleo decidiam prolongar a greve. Na refinaria da TotalEnergies, na Normandia, a Polícia usou a força para obrigar trabalhadores a cumprir a requisição civil.