A França voltou a acordar, esta terça-feira, com novos protestos na sequência da greve geral convocada pelos sindicatos. Os manifestantes querem um revés na reforma das pensões, mas o Governo mostra-se firme.
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No décimo dia de greve geral em França, no qual se espera uma participação de 650 mil a 900 mil manifestantes até ao final do dia, o Ministério da Educação francês comunicou, no início da manhã, que 8,37% dos professores interromperam as funções, o que representa uma queda na adesão aos protestos por parte da classe em relação ao último dia de greve, a 23 de março, altura em que 21,41% dos docentes participaram na paralisação.
No entanto, segundo as autoridades, a mobilização dos estudantes está a ser muito superior, o que levou ao encerramento de centenas de escolas e universidades em toda a França, nomeadamente em cidades como Paris, Marselha, Nice, Lyon, Toulouse ou Lille. O sindicato La Voix Lycéenne revelou que 450 escolas secundárias foram bloqueadas pelos jovens, impedido a realização normal das atividades.
Relativamente ao funcionamento dos transportes, foram registadas, até ao final da manhã, várias paralisações. Na Gare de Lyon, na capital francesa, centenas de manifestantes invadiram os trilhos em solidariedade com o trabalhador da ferrovia que perdeu o olho esquerdo nos protestos da semana passada, impedindo a marcha habitual dos comboios.
O cenário foi semelhante em Rennes, onde os manifestantes causaram um incêndio na ferrovia, interrompendo a circulação de comboios na linha que liga a cidade a Saint-Brieuc. Por sua vez, a rede de autocarros também foi afetada, já que a garagem de onde partem os veículos se encontra bloqueada.
Na aviação, os aeroportos de Montpellier e Quimper foram, até agora, os mais afetados, uma vez que o tráfego foi interrompido devido à greve dos controladores aéreos, comunicou a Direção-Geral da Aviação Civil. A administração pediu às companhias aéreas que cancelassem preventivamente 20% dos voos para Paris-Orly, Marselha, Toulouse e Bordéus, numa paralisação que se poderá estender até ao final desta semana.
Quem tenta deslocar-se em viaturas próprias também não tem a vida facilitada. Além de várias estradas estarem cortadas devido às marchas de protesto e à instalação de barricadas, cerca de 15% dos postos de combustível nacionais estão com falhas por causa das greves nas refinarias.
Para os turistas também há más notícias: o Museu do Louvre, o mais visitado do Mundo, foi encerrado depois de, na segunda-feira, os trabalhadores bloquearam a entrada na atração situada no coração de Paris.
Na capital francesa, os trabalhadores do lixo também permanecem em greve, o que causou a acumulação de mais de oito mil toneladas de dejetos nas ruas da "cidade luz".
"Risco para a ordem pública"
Tendo em conta que, na semana passada, se registaram confrontos violentos entre manifestantes e polícias, o que resultou em 457 detenções e 441 agentes feridos, o ministro do Interior, Gerald Darmanin, informou que mais de 13 mil membros das forças de segurança - cinco mil só em Paris - foram mobilizados para intervir nas ruas, justificando o aumento de reforços com o "grande risco para a ordem pública", cita o jornal francês "Le Figaro".
Apesar de a primeira-ministra francesa, Élisabeth Borne, se ter disponibilizado para receber os grupos parlamentares e os partidos políticos, na semana de 3 de abril, manifestando ainda abertura para eventuais encontros com sindicatos e organizações sindicais, os representantes dos trabalhadores garantem que não vão cessar os protestos enquanto o Governo não der um passo atrás em relação à reforma das pensões, que prevê, entre outras medidas, o aumento da idade da reforma de 62 para 64 anos.
Laurent Berger, secretário-geral do sindicato CFDT, admitiu que aceitaria participar nas negociações, mas apenas se a reforma, aprovada há quase duas semanas por decreto, fosse "colocada de lado". O responsável apelou ainda, esta terça-feira, à nomeação de um mediador para participar nas conversas entre os sindicatos e o Executivo, defendendo que tal seria "um gesto a favor da procura por uma saída". Também Phillippe Martinez, líder do sindicato CGT, reafirmou que o objetivo primário, antes de qualquer diálogo, "é a retirada da reforma das pensões".
As solicitações foram ouvidas pelo Governo, mas, ao que tudo indica, não serão acatadas. Olivier Véran, porta-voz do Executivo, sublinhou, em conferência de imprensa, que "não são necessários mediadores" para que as partes conversem entre si, deixando claro que o Governo apenas está aberto para "discutir as condições de aplicação da lei".