Um relatório com testemunhos de mais de seis centenas de desertores norte-coreanos, divulgado na quinta-feira, revela que a Coreia do Norte continua a reprimir a cultura da vizinha Coreia do Sul. Num dos casos mais extremos, um jovem de 22 anos foi executado publicamente por ouvir música e ver filmes sul-coreanos.
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De acordo com o Relatório sobre os Direitos Humanos da Coreia do Norte, que compila testemunhos de 649 desertores norte-coreanos e foi divulgado na quinta-feira pelo Ministério da Unificação da Coreia do Sul, as buscas a casas aumentaram desde 2021, com as autoridades à procura de sinais de cultura externa, adianta a agência de notícias Yonhap.
O caso mais extremo é de um agricultor de 22 anos da província de Hwanghae do Sul, que não foi identificado, que foi executado publicamente em 2022 por ouvir 70 músicas sul-coreanas, ver três filmes e distribuí-los, violando uma lei norte-coreana adotada em 2020 que proíbe “ideologia e cultura reacionárias”. Segundo a emissora britânica BBC, acredita-se que este seja o único relato de uma execução realizada por causa desta lei.
Outros casos de repressão incluem punições para práticas “reacionárias”, como noivas a usar vestidos brancos, noivos a transportar a noiva ao colo, usar óculos de sol e beber álcool em taças de vinho, todos vistas como costumes sul-coreanos. Além disso, os telemóveis também são frequentemente inspecionados para controlar a grafia dos nomes dos contactos, expressões e gírias consideradas de influência sul-coreana.
O regime norte-coreano também reprime a moda e os penteados “capitalistas”, visando "skinny jeans", t-shirts com palavras estrangeiras e piercings, bem como cabelos pintados ou longos.
Este controlo faz parte de um esforço do regime norte-coreano de afastar a influência “maligna” da cultura ocidental, que começou com o antigo líder Kim Jong-il e intensificou-se com o filho e atual líder do país, Kim Jong-un. Segundo os especialistas, citados pelo jornal britânico "The Guardian", permitir que a cultura popular sul-coreana se infiltre na sociedade norte-coreana pode representar uma ameaça à ideologia que exige lealdade absoluta à “infalível” dinastia Kim que governa o país desde a sua fundação em 1948.
Apesar destas medidas, a influência da cultura sul-coreana, incluindo programas de televisão recentes, parece imparável. Mesmo com a fronteira com a China praticamente fechada após o surto da covid-19, a informação ainda está a infiltrar-se e a ser distribuída através de redes informais. Nas últimas semanas, a Coreia do Norte enviou milhares de balões com resíduos e lixo através da fronteira, em retaliação ao lançamento de balões da Coreia do Sul, cuja carga inclui panfletos anti-regime, notas de dólar e "pen drives" com músicas e filmes sul-coreanos.