O presidente do Conselho Europeu apelou hoje ao primeiro-ministro israelita para "ouvir a própria consciência", manifestando esperança de que a União Europeia (UE) consiga rapidamente alcançar um "entendimento" para reforçar a ação perante o "massacre" em Gaza.
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"[Benjamin] Netanyahu não ouviu ninguém. Seria necessário, naturalmente, que ouvisse a própria consciência e percebesse que, no século XXI, é absolutamente intolerável o que está a fazer em Gaza e também a forma como prossegue com os colonatos ilegais na Cisjordânia", afirmou António Costa.
"Toda a humanidade espera que esta barbárie e este massacre em Gaza terminem de uma vez por todas, para além do cessar-fogo", acrescentou o antigo primeiro-ministro português, em declarações a jornalistas em Madrid, onde recebeu o prémio Fórum Europa, numa cerimónia presidida pelo rei Felipe VI de Espanha.
Costa presidirá na quarta-feira, em Copenhaga, a uma reunião informal dos chefes de Estado e de Governo da UE, na qual o tema de Gaza voltará a ser debatido.
O presidente do Conselho Europeu reconheceu a dificuldade em alcançar decisões por unanimidade entre os 27, mas destacou a "evolução" da posição da Alemanha - importante aliado de Israel - ao longo do tempo, manifestando confiança em que se encontrará "um ponto de entendimento" relativamente à situação em Gaza.
Costa sublinhou ainda que "não se deve confundir o senhor Netanyahu e o seu Governo com Israel, com o povo israelita", lamentando que a atuação do primeiro-ministro israelita tenha "alienado tão rapidamente tantas amizades" que o país tinha na Europa.
A 17 deste mês, a Comissão Europeia propôs suspender as preferências comerciais concedidas a Israel, bem como sancionar dois ministros extremistas do Governo de Netanyahu, Bezalel Smotrich e Itamar Ben-Gvir, além de colonos violentos, devido à ofensiva em Gaza, que já causou mais de 66 mil mortos em quase dois anos.
As sanções exigem unanimidade entre os 27 Estados-membros, mas a Hungria continua a opor-se a penalizar mais colonos israelitas. No entanto, segundo fontes diplomáticas citadas pela EFE, cresce o consenso em torno da adoção de medidas restritivas contra os dois ministros.
É também possível que avance a suspensão das vantagens comerciais previstas no acordo de associação UE-Israel, assim como o fim da colaboração no programa comunitário de investigação Horizonte Europa, segundo as mesmas fontes.
Caso a Alemanha e a Itália não se manifestem contra, poderá ser atingida a maioria qualificada necessária para aprovar a suspensão -- 55% dos Estados-membros, ou seja, 15 países que representem pelo menos 65% da população da União.
Espera-se que os líderes europeus se pronunciem sobre o assunto na cimeira informal de quarta-feira em Copenhaga.