A organização Human Rights Watch revela que cerca de 1500 crianças foram detidas, até 2018, pelas autoridades iraquianas e do governo regional do Curdistão, por alegada ligação ao Estado Islâmico.
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As autoridades do Iraque e do governo regional do Curdistão iraquiano detiveram e torturaram menores suspeitos de ligação ao grupo Estado Islâmico (EI), divulgou a organização Human Rights Watch (HRW), esta quarta-feira.
As crianças são submetidas a tortura para confessarem a sua ligação ao movimento extremista, segundo o relatório, de 53 páginas, intitulado "Todos devem confessar: abusos contra crianças suspeitos de afiliação ao Estado Islâmico no Iraque".
"As crianças acusadas de afiliação com o Estado Islâmico estão a ser detidas e, com frequência, torturadas e processadas, independentemente do nível real de envolvimento com o grupo", afirmou Jo Becker, diretor de defesa dos direitos das crianças da Human Rights Watch. "Esta abordagem radical e punitiva não é justiça e gera consequências negativas ao longo da vida para muitas destas crianças", acrescentou.
A organização de defesa dos direitos humanos entrevistou 29 menores, com idades entre os 14 e os 18 anos, atuais e antigos detidos pelas autoridades do Curdistão por alegada ligação ao EI.
Segundo a HRW, 19 menores relataram que foram torturados. Um jovem, de 17 anos, detido em 2017 no Iraque, contou que ficou suspenso no ar, amarrado pelos pulsos, durante 10 minutos repetidamente. Esteve detido durante sete meses e meio. "Todos os dias éramos torturados. Batiam-nos todos os dias", disse.
Outro detido, de 14 anos, revelou ter sido torturado para admitir pertencer ao EI, por agentes da polícia curda, em 2017. "Bateram-me no corpo todo com barras de plástico", contou.
A maioria dos entrevistados afirmaram não saber se tiveram advogado e que os julgamentos duraram apenas cinco ou dez minutos, assinala a organização de defesa dos direitos humanos.
Os detidos por suspeita de envolvimento com o grupo extremista temem ainda que o estigma com que ficam os torne vítimas de ataques ou leve a uma separação da família e comunidade.
"A lei internacional reconhece as crianças recrutadas por grupos armados principalmente como vítimas que devem ser reabilitadas e reintegradas na sociedade", lembra a HRW. A ONG recomenda às autoridades iraquianas e do governo do Curdistão que alterem as leis antiterroristas de forma a terminar com a detenção e julgamento de crianças, reabilitando-as e reintegrando-as na sociedade.