Crianças morrem após ambulâncias serem impedidas de entrar em campo de refugiados
Operação israelita em Jenin, no norte da Cisjordânia, teve início na madrugada de segunda-feira e já causou dez mortos, entre os quais três crianças que não foram socorridas a tempo. Milhares de palestinianos fogem do campo de refugiados.
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O ataque por via aérea e terrestre do Exército israelita ao campo de refugiados de Jenin, no norte da Cisjordânia, já causou pelo menos 10 mortos e 100 feridos, sendo que 20 pessoas estão em estado grave, revelou o Ministério da Saúde da Palestina. Segundo a Organização Mundial de Saúde, as ambulâncias com equipas médicas foram impedidas de entrar no acampamento para tratar os palestinianos com ferimentos, o que impulsionou a morte de três crianças.
“Os ataques ao acampamento de Jenin começaram a seguir um padrão: as ambulâncias são atingidas por carros blindados, sendo que os feridos e os profissionais de saúde têm visto negada a entrada e a saída do local. O que vemos é o hospital onde estamos a tratar pacientes a ser atingido. Estruturas médicas, ambulâncias e feridos devem ser respeitados”, apela Jovana Arsenijevic, coordenadora de operações da Médicos Sem Fronteiras em Jenin, ao dar conta das dificuldades que as equipas de socorro estão a ter para conseguirem tratar quem chega ao hospital Khalil Suleiman.
A incursão das Forças de Defesa de Israel tem tido como principal foco um centro de comando da Brigada de Jenin, local onde se reúnem milícias de todas as fações, no entanto, a primeira grande operação militar na cidade desde 2002 está a afetar a população civil.
“Há cerca de três mil pessoas que deixaram o campo até agora”, informou o vice-governador de Jenin, Kamal Abu al-Roub, esta terça-feira, em declarações à AFP, acrescentando que estão a ser feitos esforços para abrigar os milhares de civis em escolas e outros locais que permitam dar segurança às famílias.
A Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina alertou que, numa altura em que o Exército israelita continua a operação, as famílias que abandonaram o acampamento sem nada precisam de comida, água potável e leite em pó.
O campo de refugiados de Jenin foi criado na década de 1950 para abrigar palestinianos que tiveram de fugir após a criação do Estado de Israel, em 1948. O acampamento, onde as pessoas vivem em condições degradantes, é observado pelos palestinianos como um reduto de resistência armada, mas aos olhos dos israelitas o local não passa de um "centro de terrorismo".
Centenas de combatentes armados de grupos militantes, como é caso do Hamas, Jihad Islâmica e Fatah, têm forte presença no acampamento, o que tem servido de justificação para as operações do Governo Israelita.
A Brigada Jenin, uma unidade composta por homens armados de diferentes fações, foi responsabilizada por vários ataques terroristas contra cidadãos israelitas, já que a situação de segurança em Israel e na Cisjordânia se deteriorou nos últimos 18 meses e poderá piorar, uma vez que o Executivo de Benjamin Netanyahu aprovou, na semana passada, a construção de cinco mil habitações em colonatos na Cisjordânia.
Netanyahu defendeu a incursão, justificando-a com o facto de, nos últimos meses, Jenin se ter transformado num “porto seguro para o terrorismo”.
