Organizações levam ajuda humanitária ao terreno e falam em 7,5 milhões de menores em risco. A Amnistia diz que é essencial reunificar as famílias.
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Quão desolador pode ser o choro de uma criança, arrancada do regaço do pai, na fronteira de um país em guerra ou o desaparecimento prematuro de menores, vítimas de bombardeamentos aleatórios a escolas ou jardins de infância? Nos últimos dias, o futuro de 7,5 milhões de crianças na Ucrânia tornou-se incerto. Segundo o presidente do país, pelo menos 16 morreram e dezenas ficaram feridas nos ataques russos. Mas no meio do caos surge a esperança: bebés nascem em abrigos e estações de metro, abafando o ruído das sirenes que alertam para o perigo à superfície.
Apanhadas no meio do conflito, as crianças constituem o grupo de refugiados mais vulnerável e têm suscitado a preocupação de organizações como a Unicef e a Save the Children, que trabalham no terreno para assegurar a distribuição de água potável, alimentos e agasalhos e o acesso a cuidados de saúde, apoio psicológico e educação. Em comunicado, a diretora-executiva da Unicef alertou para uma situação que piora a cada minuto e pediu a suspensão das ações militares em curso, de modo a facilitar o acesso às famílias isoladas. "As crianças estão a ser profundamente traumatizadas pela violência ao seu redor", afirmou Catherine Russell, pedindo às partes envolvidas no conflito para proteger civis e estruturas como hospitais, escolas ou instalações de água.
Emergência humanitária
Irina Saghoyan, diretora da Save the Children para a Europa Ocidental, acredita que a guerra na Ucrânia pode tornar-se na maior emergência humanitária desde 2015 e assegura que a associação está a trabalhar com os países fronteiriços para garantir, entre outras necessidades, lugares seguros para as crianças brincarem e aprenderem. "Estas crianças estão a experienciar coisas às quais nenhuma criança deveria ser exposta".
Na luta pela paz, a Amnistia Internacional considera que todos os direitos humanos estão a ser violados no conflito ucraniano e enumera os "efeitos devastadores" para as crianças, cuja vida foi interrompida de forma drástica. "O direito à vida, à saúde, à educação, a ter uma família, à estabilidade social, política e económica, é tudo questionado e posto em causa", aponta Pedro Neto.
Ao JN, o diretor-executivo da organização em Portugal sublinha o impacto psicológico que as separações forçadas podem provocar nos menores, apontando a reunificação familiar como uma prioridade.
"As Nações Unidas têm de assegurar que as Convenções de Genebra sejam cumpridas e que haja corredores humanitários para os civis saírem e a ajuda entrar no país".
Pedro Neto enaltece ainda o papel da ajuda humanitária no terreno para mitigar o "drama da guerra" e apela ao acesso urgente a escolas e creches para que as crianças consigam retomar "a sua vida, mesmo sabendo que isso já não será possível".