Criminoso foragido ajudado e "traído" pela irmã: o poder das mulheres na máfia italiana
Há muito consideradas personagens secundárias, o papel fundamental das mulheres na máfia siciliana foi destacado pela detenção da irmã de Matteo Messina Denaro, chefe dos chefes da máfia, acusada de administrar os seus negócios enquanto o mafioso estava foragido.
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Rosalia Messina Denaro foi presa no início deste mês não muito longe de Palermo, onde o irmão foi preso em 16 de janeiro após 30 anos foragido. É acusada de dar ordens, manter negócios e transmitir mensagens secretas para o irmão enquanto estava escondido.
Apelidada de "Rosetta", estava responsável dos "pizzini", pequenos bilhetes manuscritos passados de mão em mão com ordens, detalhes sobre os fundos do clã ou mensagens pessoais. Um bilhete encontrado pelos investigadores incluía detalhes sobre dinheiro que entrava e saía em novembro de 2011, com quase 82 mil euros deixados no fundo da família após o pagamento de despesas como honorários advocatícios. Outros permitiam que o irmão desabafasse, como quando escreveu "somos perseguidos como canalhas".
Matteo Messina Denaro, que foi condenado à revelia a prisão perpétua pela sua participação no assassinato do juiz antimáfia Giovanni Falcone em 1992, deu instruções claras: as mensagens devem ser queimadas imediatamente. Mas, por vezes, a irmã escondia-as.
Rosalia passou quase metade da sua vida a esconder o irmão, mas as suas ações acabaram por traí-lo. Em dezembro de 2022, a polícia antimáfia invadiu secretamente a sua casa em Castelvetrano para instalar microfones e câmaras. Foi aí que encontraram um bilhete, detalhando os cuidados médicos de um homem que tinha cancro. Convencidos de que o paciente seria o mafioso a usar um nome falso, a polícia iniciou uma operação, detendo-o num estabelecimento de saúde pouco mais de um mês depois.
Rosalia era "ponto de referência"
Durante muitos anos, as mulheres ligadas à Cosa Nostra pareciam ter nascido para ficar viúvas, retratadas em filmes com véus negros. Mas a realidade é muito mais complexa, com muitas mulheres, filhas e irmãs a desempenhar papéis ativos enquanto os homens fogem, estão presos ou mortos.
"Durante décadas, ela foi o ponto de referência económico dele e a pessoa de maior confiança", escreveu o procurador de Palermo, Alfredo Montalto, no mandado de prisão. Ao gerir o dia-a-dia do irmão, a mulher de 67 anos "permitiu à Cosa Nostra manter um líder forte que continuou a alimentar a lenda".
A família Messina Denaro construiu uma dinastia do crime e Rosalia era o braço operacional desde 2018, quando a irmã Anna Patrizia foi presa e condenada a 14 anos de prisão. Os procuradores descreveram Rosalia Messina Denaro como "uma mulher de origens e tradições totalmente imbuídas da cultura mafiosa ortodoxa e arraigada".
Apesar de - na maioria das vezes - não cometerem crimes violentos, as mulheres da máfia geralmente recebem pesadas sentenças de prisão.