Espanha, Alemanha, França e Grécia são alguns dos estados da UE que já começaram a aplicar medidas para poupar energia, antecipando aquele que será um inverno difícil. Objetivo é diminuir dependência do gás russo.
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A possibilidade da Rússia cortar o fornecimento de gás a 100% aumenta os temores de um inverno difícil na Europa. Apesar do tempo de verão ainda estar para durar, alguns dos países com forte dependência energética de Moscovo já começaram a fazer contas, encontrando soluções para poupar gás a tempo dos meses mais frios.
A aplicação de regras de poupança tornou-se urgente sobretudo depois de, na semana passada, os ministros da Energia da União Europeia (UE) chegaram a um consenso para a adoção de um novo regulamento para a redução em 15% do consumo de gás no inverno.
Embora esteja abrangido pelas exceções estabelecidas pela UE relativamente à poupança de energia, Espanha foi o mais recente país da Europa a impor limites de temperatura em espaços públicos para poupar energia, mostrando-se solidária com os restantes estados-membros.
Esta segunda-feira, o Governo espanhol comunicou que os edifícios públicos, espaços comerciais e culturais, estações de autocarros e comboios e aeroportos não podem ter uma temperatura inferior a 27 graus no verão e superior a 19 no inverno.
Além disso, Teresa Ribera, ministra da Energia espanhola, explicou que está previsto que se comece a desligar a iluminação de montras, monumentos e outros edifícios a partir das 22h00 da próxima semana - altura em que as novas medidas deverão entrar em vigor.
Em Madrid, a governante informou que o Executivo de Pedro Sánchez pretende ainda aumentar o teletrabalho na administração pública, apelando a que as grandes empresas espanholas façam o mesmo, de modo a evitar deslocações desnecessárias e diminuir a necessidade de custos com a climatização de edifícios.
A ministra garantiu que este é um "pacote de medidas urgentes de poupança e eficiência" energética, atendendo "à situação crítica" que vive a Europa por causa da ameaça russa de corte de fornecimento de gás, acrescentando que as medidas vão estar em vigor até novembro de 2023 e "são um primeiro pacote", que integrará um plano mais completo.
Também a Alemanha, um dos países mais dependentes do gás russo, pediu à população que seja consciente no que diz respeito aos gastos de energia. Em Hanôver, a capital da Baixa Saxónia, deixou de haver água quente nos edifícios públicos. Segundo o presidente da câmara, Belit Onay, a medida irá reduzir o consumo de energia em 15%. Brevemente, a autarquia também deverá estabelecer máximos de 20 graus de aquecimento para os edifícios públicos no inverno e 10 a 15 graus para armazéns e salas técnicas.
"O nosso apelo é para se poupar energia onde for possível. Será necessária para o inverno e toda a gente terá de o fazer", sublinhou Onay. Nem a capital alemã escapou à tendência de poupança e, esta segunda-feira, Berlim também viu as luzes serem desligadas em 200 edifícios públicos, incluindo a Porta de Brandeburgo e a Câmara Municipal da cidade.
Em França, a lógica é a mesma. Foi exigido aos estabelecimentos que mantenham as portas fechadas no caso de usarem o ar condicionado, tal como a desligarem as luzes néon assim que as lojas encerrem. Em casa, é recomendado que a população desligue o router de WiFi, as televisões e as luzes quando não estão a ser usadas.
Estes são pequenos gestos que a curto prazo os gauleses deverão adotar, porém, há neste momento seis grupos de trabalho que estão a idealizar um plano que deverá incluir novas medidas de poupança em vários setores da economia.
Em junho, ainda antes de a UE adotar o novo regulamento, foi apresentada, na Grécia, a operação termóstato, que pretende reduzir o consumo de energia em 30% até 2030. O país, que tem uma dependência energética da Rússia de 40%, tem ainda em vista um plano de 640 milhões que será aplicado na renovação de janelas, sistemas de aquecimento e refrigeração nos edifícios.
Aproveitando a necessidade transversal de poupar energia, o ministro do Turismo grego, Vassilis Kikilas, apelou ainda a que os reformados alemães fossem aproveitar o "inverno mediterrâneo" de modo a poupar gás nas casas alemãs.
Nos Países Baixos, a partir do próximo ano os consumidores com um consumo de eletricidade superior a 50 mil quilowatts por hora terão que fazer um racionamento. Além disso, as autoridades do país também reforçaram que é primordial acabar com a elevada dependência de combustíveis fósseis russos e reduzir as emissões de dióxido de carbono.
Em Portugal, as medidas para poupar energia não deverão ser tão drásticas, uma vez que o país se enquadra nas exceções definidas pela UE. Como tal, os portugueses não deverão ter de fazer um corte superior a 7%, já que a dependência de gás russo é praticamente inexistente. Para já, o Governo ainda não estabeleceu medidas de contenção, mas Duarte Cordeiro, ministro do Ambiente, já deixou claro que "todos os países contribuirão na medida das suas possibilidades e das suas limitações".